Lamento quem se deslumbrou com a demissão de Pedro Nuno Santos de ministro das infraestruturas, considerando-o quase um acto heróico, talvez por ser invulgar por aqui. Para uma livre-pensadora, cujos neurónios são muito activos e ariscos, nada do que o jovem Pedro disse, há cerca de um mês, fez sentido, pelo que me limitei a esperar pela verdade, que surgiu ontem, pelo próprio, depois da audição no parlamento, há dias, da administradora executiva da TAP, onde a mesma declarou ter em seu poder toda a documentação comprovativa de que tudo tem sido feito com o conhecimento da tutela. Maldição a minha por não ter palas nos olhos e os neurónios continuarem em bom estado.
Restolhando
sábado, 21 de janeiro de 2023
segunda-feira, 9 de janeiro de 2023
António Campos sobre o seu PS actual
«O meu partido hoje não está a defender uma democracia responsável e transparente.
Não está a respeitar a ética republicana, porque as próprias instituições não estão a funcionar. Em qualquer democracia responsável e transparente, onde há um poder há um contrapoder. Isso é a regra básica da democracia. E os contrapoderes não estão a funcionar. O meu partido é responsável pelos contrapoderes não estarem a funcionar.
Nós tivemos agora problemas no Ministério das Finanças com a incorporação de uma senhora [Alexandre Reis], em que a Inspeção Geral das Finanças, que é responsável por isso, não funcionou.
E temos agora a agricultura.
É ela que se deve demitir. Por uma razão muito simples: Eu não sei se ela sabia ou não da senhora. A senhora era Diretora Regional do Norte, desempenhava o lugar de alta importância. Nunca veio a público o que havia sobre ela. Ela entra para secretária de Estado e, passado 24 horas, nós passámos a conhecer esse currículo dela e, portanto, aqui há uma falta total de funcionamento das instituições, e da ética republicana, é verdade. Mas a ética está ligada às instituições.
O primeiro-ministro é aluno do Presidente da República e os dois têm a mesma tese: "O que é da política é da política, e o que é da justiça e da justiça". Isso é a tese do professor e do aluno, dos dois juristas que dirigem hoje o país.
E o país não suporta isto. A democracia não suporta o que se está a passar. Eu lutei uma vida pela democracia e hoje assisto ao desmoronar total das instituições que eu também ajudei a criar, depois do 25 de Abril.
Não têm nada a ver este PS com o PS que eu criei. Era o “Partido da Liberdade”. Instalámos as instituições todas. Onde havia um poder criámos sempre um contrapoder, para fiscalizar o poder instituído. E hoje não funcionam. E em democracia nós estamos todos a trabalhar, neste momento, para a extrema-direita e para desacreditar a democracia transparente e responsável.
O problema não é o Governo. O problema é o partido que eu criei, que está em risco. Os governos são passageiros e o que está em risco é o partido que eu ajudei a criar aqui em minha casa, clandestinamente, e que depois foi criado legalmente na Alemanha. E esse é que está em risco, porque os governos são passagens. Agora, o meu partido, neste momento, está em risco. É óbvio.»
(respostas dadas em entrevista à RR no dia 6/01/2023)
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
O país de Marcelo
O P.R. não precisa ir tão longe para constatar "in loco" a violação de direitos humanos. Dê um saltinho ao alentejo e encontrará em doses concentradas comportamentos e discursos racistas, xenófobos, homofóbicos, atropelos aos direitos constitucionais, etc., etc.
quinta-feira, 25 de julho de 2019
Boris Johnson, um clássico?
domingo, 23 de dezembro de 2018
Frederico Lourenço - Paraíso
terça-feira, 11 de setembro de 2018
Demagogia e demagogos
domingo, 3 de junho de 2018
Eutanásia, significa "uma morte serena e pacífica"
P. 20
…O comportamento ético não exige a crença no céu e no inferno.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Frederico Lourenço, Utopia setecentista em Jerusalém
A acção da peça desenrola-se em finais do século XII, na cidade das Três Religiões, Jerusalém, num momento histórico em que perfazia mais ou menos vinte anos que o Papa se dignara admitir a existência de um pequeno país chamado Portugal. Em Coimbra, na altura a capital portuguesa, reinava Sancho, primeiro de seu nome. Em Jerusalém reinava Saladino, o feroz déspota muçulmano, que a tradição romanesca sempre gostou de pintar com cores de nobreza sanguinária.
Mas Saladino, antes mesmo de começar a peça “Nathan o Sábio”, acabara de ter um gesto não-sanguinário que deixara a cidade de Jerusalém estupefacta. Salvou da pena de morte um jovem cavaleiro templário cuja cabeça já estava no cepo. Jovem templário esse cuja primeira acção, após o indulto inesperado do sultão, é salvar das chamas uma jovem judia – a filha adoptiva de Nathan, o sábio judeu protagonista da peça. Logo antes, portanto, de a trama da peça começar, temos estes gestos inusitados de compreensão e de tolerância da parte de um muçulmano para com um cristão e da parte de um cristão para com uma (alegada) judia.
Seria pena contar aqui o enredo desta obra dramática fascinante; não quero estragar a leitura a quem não a tenha lido ainda. Não deslustrarei, contudo, a teia de ingredientes bem aristotélicos (peripécia, catástrofe, anagnórise) se referir aqui o momento-chave deste drama, que ocorre quando o judeu Nathan conta ao sultão a História dos Três Anéis.
Havia outrora um anel que detinha o poder de tornar quem o usava amado à vista de Deus e dos homens. Este anel foi passando de geração em geração, até que um pai de três filhos quis deixá-lo àquele dos três a quem ele mais amava. No entanto, apercebeu-se antes de morrer que amava os três filhos de forma igual. Assim, mandou fazer em segredo duas cópias do anel sagrado e, no leito de morte, deu um anel a cada filho, já insciente de qual era o verdadeiro anel. Os próprios filhos, incompatibilizados entre si, esforçam-se por descobrir qual dos três anéis é o verdadeiro – aquele que daria ao seu possuidor o poder mais legítimo. Mas as cópias estavam tão bem feitas que era impossível distinguir os anéis entre si. Por fim, litigando uns contra os outros perante um sábio juiz, ouvem da boca deste a sentença, segundo a qual o que conta é o amor com que o pai legou os anéis aos três filhos amados, pelo que das duas uma: ou os três anéis têm de ser considerados falsos; ou então são os três verdadeiros.
Esta belíssima parábola tem como referente óbvio as três religiões: Judaísmo, Cristianismo e Islão. Nenhuma das três é “a verdadeira”, porque cada uma das três é verdadeira. Mais: nas palavras do juiz, as três religiões são necessárias e requeridas por Deus. “É possível que o Pai já não quisesse em sua casa a tirania do único anel”.
Muito à frente do seu tempo e – como as tensões persistentes entre judeus, muçulmanos e cristãos ainda hoje provam – muito à frente do nosso, este extraordinário texto de Lessing constitui um convite à reflexão e desafia-nos a considerar o fenómeno religioso sob o prisma das Luzes. Prisma de que continuamos ainda tão precisados hoje no mundo inteiro.
Ao mesmo tempo, o enredo da peça pretende confirmar a importância da consciência individual; a importância da escolha que cada um faz e que os outros têm de respeitar. No meio de tantos pensamentos ousados e de tantas frases arrojadas com que nos deparamos em “Nathan o Sábio”, há uma expressão que me parece constituir o arrojo supremo: “ninguém deve ser obrigado a nada” (“niemand muss müssen”). Em 2014, temos tanto a aprender com este texto de 1779.»
sexta-feira, 4 de julho de 2014
Rui Ramos, Se eu fosse mesmo um neo-liberal
sábado, 7 de junho de 2014
Possidónio Cachapa (citação)
Flash News: é possível pensar as sociedades para lá dos nomes que se esborracham contra as objectivas. Saber e dizer que estas baratas tontas que correm histericamente pelos corredores das sedes partidárias, das assembleias, de São Bento, são como Jesus, mas no mau sentido: caminham sobre a babugem das ondas achando que nadam as profundezas do Estado. Por uma vez, gostaria de ver escrito coisas que não fossem sobre as cuecas dos ronaldos de pacotilha que elegemos, vamos eleger, ou odiamos porque têm um cabelinho à mete-nojo ou o olhar teimoso de um metalúrgico que não acredita na bondade dos outros.
Por uma vez, ficaria contente, de ver o país que se expressa a fazê-lo levemente acima do esforço de postar um gatinho a tocar piano.
Por uma vez, gostaria de sentir que pertenço a um país que pensa de vez em quando...»
terça-feira, 6 de maio de 2014
Balanço cauteloso
segunda-feira, 28 de abril de 2014
Vasco Graça Moura, "Zeus e o destino"
porque ele tem a sua morte anunciada,
porque de pentesileia o trespassou
o olhar agonizante e eu o canto
fugaz e reiterado como um brilho no bronze,
porque este é um dos meus versos mais amados
da ilíada quando, no canto sexto, helena
de tróia exclama a lamentar-se "zeus
deu-nos um destino infeliz para que, mais tarde,
os homens nos cantassem", a desoras
não sei se estas certezas nos trarão
como as marés acasos hesitantes,
nocturnos objectos de desejo,
coisas nenhumas e pequenos nadas,
mas sei de captações contraditórias,
harpas de sombras íntimas tocando
o mais verbal da vida, o nervo dela.
é quando se transforma, quente e denso,
o coração num desafio ao mundo
e tudo leva a tudo e transfiguram-se
a memória, as imagens, o real inesperado.
1. Zeus e o destino, in Sombras com Aquiles e Pentesileia, Quetzal, 1999
Vasco Graça Moura (3/1/1942 – 27/4/2014)