sábado, 15 de outubro de 2011

Agustina Bessa-Luís, 89.º aniversário

Este ano escolhi, para homenagear Agustina Bessa-Luís pelos seus 89 anos de vida, dois excertos de um livro de que não tinha publicado nada nos blogues: Contemplação Carinhosa da Angústia. Um, porque se refere a A Sibila, que foi o meu primeiro contacto com a sua escrita, e que aqui aborda na sua maneira muito particular e desarmante. Outro, e na mesma linha, explica-nos por que é que escreve.

1.º excerto:

«Agora, o que se diz da Sibila surpreende-me bastante. Dividem-na em porções, como os mapas de campanha, e descobrem nela teoremas de Lacan e de Freud. Eu sempre pensei que A Sibila era a minha tia Amélia, vaidosa e com jeito para coisas de tribunais, e que sabia como ninguém estufar um pato com pimenta, num lume de rama de pinheiro. A resina, ao arder, dava ao pato um sabor especial. Entre isso e Lacan não sei que relação haverá.»

2.º excerto:

 

«Francamente – porque pensam que eu escrevo? Para incomodar o maior número de pessoas com o máximo de inteligência. Por narcisismo, que é um facto civilizador. Para ganhar a vida e figurar no Larousse com o mesmo realismo utópico aplicado a Madame de Pompadour, que, sendo pequenina e abonecada, ali se apresenta como “grande, bien-faite”. A fama de uma pessoa confunde o juízo, como o amor fabuloso e o erotismo pedante. Escrevo para desiludir com mérito, que é a maneira de se fazer lembrar com virtude.»

 

Agustina Bessa-Luís, Contemplação Carinhosa da Angústia, Guimarães Editores; Lisboa, 2000

1 comentário:

Mar Arável disse...

A nossa grande Agustina