«O próximo domingo ficará na história da União Europeia como data histórica. Seja pelos seus resultados, seja pelas suas omissões. Há quase uma década, Jared Diamond escreveu o seu célebre ensaio, "Colapso", no qual demonstrava como a ilusão, o preconceito, e a pura e simples ignorância podiam condenar civilizações inteiras ao desaparecimento brutal e doloroso. Todos esses flagelos se conjugaram na presente crise europeia para tornar confuso o que é simples, para transformar prudência em cobardia, para trocar soluções indispensáveis por panaceias que tudo complicam e nada resolvem.
A União Europeia chegou a um ponto em que, se a sua pulsão de vida for mais forte do que a sua pulsão de morte, terá de escolher a estrada do aprofundamento federal, completando o caminho que a criação do euro iniciou de forma tortuosa e imperfeita. As medidas que sejam tomadas para acudir às ameaças imediatas que afectam o sistema bancário e as dívidas soberanas só terão sucesso se forem enquadradas por uma viragem estratégica, a realizar ao longo dos próximos três anos. Precisamos de um novo Tratado Constitucional, que clarifique e articule as competências da União e dos Estados. Um Tratado referendado por todos os povos, sem a chantagem da unanimidade. Um Tratado que siga o princípio da igualdade dos Estados, afastando a deriva para o directório. Que garanta a cidadania europeia e o funcionamento legítimo de uma união fiscal, de um orçamento comum, e de uma efectiva governação económica. Para Portugal menos do que isto seria uma derrota. A unidade europeia só será do interesse nacional se ela não corresponder a permanecer servilmente como protectorado agonizante de um directório, firmado numa revisão imperial do Tratado de Lisboa. Nesse caso, teremos de içar de novo as velas e partir para o mundo que ajudámos a unir. Nem que seja numa jangada de pedra.»
No DN de ontem.
Sem comentários:
Enviar um comentário