quarta-feira, 11 de abril de 2012

Nietzsche: "O problema dos que esperam"

«São precisos muitos casos de sorte e muitas coisas incalculáveis para que um homem superior, em quem dorme a solução de um problema, chegue ainda a tempo para agir - "à explosão", como se poderia dizer. Em geral, tal não acontece, e em todos os recantos da Terra há os que esperam, que mal sabem em que sentido esperam, mas menos ainda sabem que esperam em vão. Por vezes, também, chega tarde demais o toque de alvorada, aquele acaso que dá a "licença" para agir - acontece quando a melhor juventude e força de agir estão gastas pelo estar-se sentado; e quantos não descobriram, com susto, ao levantarem-se "sobressaltados", que tinham os membros dormentes e o espírito já pesado demais! "É tarde demais", disse, tornado descrente de si próprio e, agora, inútil para sempre. Será que, no reino do génio, o "Rafael sem mãos", entendida a palavra no sentido mais lato, não é talvez a excepção, mas a regra? O génio talvez não seja tão raro: mas são-no as quinhentas mãos que são precisas para tiranizar o καιρós, o "tempo oportuno", para agarrar o acaso pelos cabelos!»

F. Nietzsche, in Para além do bem e do mal, Guimarães Editores, 1978, p. 208

Hoje deixo, também, um documentário sobre a vida e obra de Nietzsche, feito pela BBC, e que, curiosamente, tendo feito documentários sobre outros filósofos, atribuiu a todos o mesmo título "Human, all too human", que nos recorda o livro de Nietzsche "Humano, demasiado humano" e não o de qualquer outro.


 

2 comentários:

Manuela Freitas disse...

Fantástico documentário! Obrigada Josefa pela partilha!
Beijo,
Manuela

Hanaé Pais disse...

Quem espera nunca se supera a si próprio.

Porquê aguardar um desígnio ou um vaticínio?
A superação interior, a constante procura, aliada à descoberta do seu eu interior, num mundo ainda por conhecer,com a tentativa de encontrar em si o super herói.

Contudo o padrão moral inflamado pela religião (com os seus mais e menos)humanizou, responsabilizou e ajudou a edificar o homem da actualidade.
O que seria do homem sem ser contextualizado, convertido, em conceitos do bem, nomeadamente à compaixão e piedade?
O animal?
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