sábado, 22 de maio de 2010

Como disse, senhor Presidente ?

Cavaco Silva disse ontem na RTP que não está surpreendido com a situação do país porque tem dezenas de documentos, elaborados desde 2003, que apontavam para este desfecho se se mantivessem as opções políticas de gastar além das nossas possibilidades.
Serei só eu a ver a gravidade das mesmas, seja qual for o ângulo em que as analise? É que, se considerarmos que Cavaco Silva se limitou a ver andar o barco até ao afundamento actual, é também responsável por omissão, porque quer os governos tenham maioria absoluta quer não tenham, é sua obrigação, nas reuniões privadas com os Primeiros-Ministros em funções, chamar a atenção para esses factos e tudo fazer no sentido do que é melhor para o país. Se o fez e não teve sucesso nessa chamada de atenção, uma vez que não foram alteradas as políticas seguidas, então deve esclarecer-nos sobre isso para que essa responsabilidade por omissão não lhe seja atribuída. Agora, apresentar-se apenas com um ar triste, preocupado e pesaroso, nada resolve nem esclarece. Afinal, para que serve o Presidente de um país?

Economia - Crise não surpreendeu Cavaco Silva - RTP Noticias, Vídeo

2 comentários:

Paulo Lobato disse...

Olá Josefa,
Cavaco Silva diz que a actual situação do país não surpresa para ele porque, desde 2003, escreveu mais 20 ou 30 textos sobre o problema, o que significa que Cavaco estava certo e outros estavam errados.
Por isso, desta vez, não partilho da sua opinião exactamente porque o presidente da República foi sucessivamente criticado por querer intervir na esfera governativa: por exemplo, quando pediu o estudo custo-benefício do TGV, vivíanos no reino da fantasia, a maioria das pessoas não se preocupou muito com isso; quanto nas mensagens de ano novo apontou para o problema do endividamente externo foi dito que estava em conluio com Ferreira Leite; quando falou na necessidade de aumentar a produção de bens transaccionáveis foi olhado como "economista" e não como PR, etc.
Portanto, não foi por falta de aviso do PR (e de outros) que não invertemos o caminho.
(por exemplo, Medina Carreira foi sucessivamente ridicularizado)

Em suma: não é fácil ser padre nesta freguesia.-:))

um abraço e bom fim-de-semana,

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Paulo,

Tem toda a razão quando diz que não é fácil ser padre nesta freguesia :)). Nunca foi.

Quando Cavaco Silva se refere a documentos elaborados desde 2003, depreendi que se tratava de análises, de estudos académicos como economista, e não dos discursos que proferiu ao longo do tempo para o país. Porque, a meu ver, há coisas que não são ditas nesses discursos públicos e que devem ser ditas em privado nas reuniões com o PM. Se já assim a comunicação social anda sempre a tentar descobrir "os recados" do Presidente para o Governo, e, a quem os discursos não agradam, o acusam de interferir em assuntos que não são da sua esfera, tinha esperança que no recato das reuniões com o PM ele pudesse falar abertamente e "puxar as orelhas" se fosse caso disso. E o meu texto foi baseado neste pressuposto e até a pergunta final (para que serve um Presidente?).

Muito obrigada pelo seu contributo para aclarar as minhas próprias ideias e um abraço.