sábado, 22 de outubro de 2011

Aristóteles - Da grandeza de alma

«A grandeza de alma é uma espécie de meio-termo entre a insolência e a baixeza. Refere-se à honra e à desonra; mas não à honra de que o vulgo julga, mas àquela de que são únicos juízes os homens de bem, e a que se reporta a grandeza de alma. Os homens de bem que conhecem as coisas e as apreciam no seu justo valor concederão a sua estima a quem mereça semelhante honra; e o magnânimo preferirá sempre a estima ilustrada de um coração que sabe quão verdadeiramente estimável é o seu. Mas o magnânimo não aspira a honras sem distinção; fixar-se-à apenas no mais elevado, e ambicionará este precioso bem, com o único objectivo de que possa elevá-lo à altura de um princípio. Os homens desprezíveis e viciosos que, crendo-se eles próprios dignos das maiores honras, medem pela sua própria opinião a consideração que exigem, são os que podem chamar-se de insolentes. Pelo contrário, os que exigem menos do que se lhes deve de justiça provam ter uma alma mesquinha. Entre estes dois extremos ocupa o meio aquele que não exige para si menos honras do que as que lhe correspondam, nem quer mais do que as que merece, nem pretende tampouco monopolizá-las. Este é o magnânimo e, repito, a grandeza de alma é o meio-termo entre a insolência e a baixeza.»

Aristóteles, La Gran Moral, Capítulo XXIII, De la grandeza de alma

(tradução minha)

Eric Clapton - Autumn Leaves

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Viriato Soromenho Marques - 23 de Outubro

«O próximo domingo ficará na história da União Europeia como data histórica. Seja pelos seus resultados, seja pelas suas omissões. Há quase uma década, Jared Diamond escreveu o seu célebre ensaio, "Colapso", no qual demonstrava como a ilusão, o preconceito, e a pura e simples ignorância podiam condenar civilizações inteiras ao desaparecimento brutal e doloroso. Todos esses flagelos se conjugaram na presente crise europeia para tornar confuso o que é simples, para transformar prudência em cobardia, para trocar soluções indispensáveis por panaceias que tudo complicam e nada resolvem.
A União Europeia chegou a um ponto em que, se a sua pulsão de vida for mais forte do que a sua pulsão de morte, terá de escolher a estrada do aprofundamento federal, completando o caminho que a criação do euro iniciou de forma tortuosa e imperfeita. As medidas que sejam tomadas para acudir às ameaças imediatas que afectam o sistema bancário e as dívidas soberanas só terão sucesso se forem enquadradas por uma viragem estratégica, a realizar ao longo dos próximos três anos. Precisamos de um novo Tratado Constitucional, que clarifique e articule as competências da União e dos Estados. Um Tratado referendado por todos os povos, sem a chantagem da unanimidade. Um Tratado que siga o princípio da igualdade dos Estados, afastando a deriva para o directório. Que garanta a cidadania europeia e o funcionamento legítimo de uma união fiscal, de um orçamento comum, e de uma efectiva governação económica. Para Portugal menos do que isto seria uma derrota. A unidade europeia só será do interesse nacional se ela não corresponder a permanecer servilmente como protectorado agonizante de um directório, firmado numa revisão imperial do Tratado de Lisboa. Nesse caso, teremos de içar de novo as velas e partir para o mundo que ajudámos a unir. Nem que seja numa jangada de pedra.»

No DN de ontem.

sábado, 15 de outubro de 2011

Agustina Bessa-Luís, 89.º aniversário

Este ano escolhi, para homenagear Agustina Bessa-Luís pelos seus 89 anos de vida, dois excertos de um livro de que não tinha publicado nada nos blogues: Contemplação Carinhosa da Angústia. Um, porque se refere a A Sibila, que foi o meu primeiro contacto com a sua escrita, e que aqui aborda na sua maneira muito particular e desarmante. Outro, e na mesma linha, explica-nos por que é que escreve.

1.º excerto:

«Agora, o que se diz da Sibila surpreende-me bastante. Dividem-na em porções, como os mapas de campanha, e descobrem nela teoremas de Lacan e de Freud. Eu sempre pensei que A Sibila era a minha tia Amélia, vaidosa e com jeito para coisas de tribunais, e que sabia como ninguém estufar um pato com pimenta, num lume de rama de pinheiro. A resina, ao arder, dava ao pato um sabor especial. Entre isso e Lacan não sei que relação haverá.»

2.º excerto:

 

«Francamente – porque pensam que eu escrevo? Para incomodar o maior número de pessoas com o máximo de inteligência. Por narcisismo, que é um facto civilizador. Para ganhar a vida e figurar no Larousse com o mesmo realismo utópico aplicado a Madame de Pompadour, que, sendo pequenina e abonecada, ali se apresenta como “grande, bien-faite”. A fama de uma pessoa confunde o juízo, como o amor fabuloso e o erotismo pedante. Escrevo para desiludir com mérito, que é a maneira de se fazer lembrar com virtude.»

 

Agustina Bessa-Luís, Contemplação Carinhosa da Angústia, Guimarães Editores; Lisboa, 2000

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Steve Jobs (1955 - 2011)

De Steve Jobs, como em relação a muitas outras pessoas que deixaram a sua marca impressiva no nosso mundo e nas nossas vidas, interessa-me particularmente a pessoa que foi, o seu exemplo, os obstáculos que encontrou, alguns ainda antes de nascer, e o modo como os enfrentou e ultrapassou, mais do que o legado que nos deixa, fruto da sua inteligência e do seu trabalho, embora esteja ciente de que sem o resultado do seu trabalho ninguém conheceria Steve Jobs, nem a história da sua vida, e muito menos lhe daria importância. E é precisamente porque, muitas vezes, histórias de vida semelhantes às dele, nos mostram pessoas sem presente nem futuro, sem qualquer interesse ou vontade de lutar seja pelo que for, porque completamente esmagadas e traumatizadas pelo seu passado, que a sua história, o seu percurso, podem ser considerados exemplares.

Para quem puder dispor de 14 minutos, deixo um vídeo em que Steve Jobs conta três histórias da sua vida a estudantes da Universidade de Stanford, EUA, em 2005.