quarta-feira, 29 de setembro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O legado de Sócrates: a impunidade - texto de Alexandre Homem Cristo

O trabalho e tempo que me poupa o Alexandre Homem Cristo quando diz o que há a dizer sobre José Sócrates, Pedro Passos Coelho e a situação do país, e que reproduzo:
Um dos factores que está na raiz da tensão entre Passos Coelho e Sócrates, na discussão do Orçamento de Estado 2011 (OE2011), é o facto de o líder do PSD pretender tomar conhecimento dos números da execução das medidas que viabilizou quando assinou o PEC. É apenas razoável que, antes de negociar novamente, Passos Coelho pretenda ver em números quanto vale a palavra de Sócrates.
Daniel Bessa, na sua crónica no Expresso, chama a atenção para o facto de ninguém saber se o PEC está a ser cumprido, porque não há números disponíveis. Ao fazê-lo, não só dá razão ao pedido de Passos Coelho, como denuncia uma falha na qualidade da democracia portuguesa: não existe informação para uma adequada prestação de contas. Nesse aspecto, a situação portuguesa é dramática, como comprovam estes exemplos nas mais importantes áreas políticas do país.
- Na Economia, foi possível, há um ano atrás, que Sócrates ocultasse o verdadeiro défice, tornando-o conhecido somente após as eleições legislativas. Hoje, em plena negociação do OE2011, não sabemos se o PEC está a ser cumprido.
- Na Educação, não há informação estatística que acompanhe individualmente os alunos, pelo que nunca sabemos se as escolas e/ou as políticas educativas estão a produzir melhorias nos desempenhos dos alunos. O Ministério da Educação monopoliza a informação e decide o que é ou não é divulgado.
- Na Justiça, os casos mediáticos (Freeport, Casa Pia) levaram à tensão entre o Procurador-geral da República, o Bastonário da Ordem dos Advogados e vários juízes. Institucionalmente, nunca ninguém foi responsabilizado.
Os exemplos multiplicam-se, e todos levam à mesma conclusão: Portugal precisa de mais transparência de informação e, em simultâneo, que os seus cidadãos tenham mais voz para impor uma verdadeira prestação de contas a partir dessa informação. Não basta a informação existir, é necessário que os cidadãos tenham força para a usar (cf. Lindstedt and Naurin, Transparency is not Enough: Making Transparency Effective in Reducing Corruption, International Political Science Review 2010 31: 301).
Sócrates, já todos percebemos, não é compatível com a transparência na política. Pior, Sócrates terá sido o primeiro-ministro que, na história da nossa democracia, melhor soube tirar proveito da ausência de informação e de enquadramento institucional para a vigilância do poder político. Por isso, o legado de Sócrates será, sobretudo, este: tornou insustentável a ausência de prestação de contas.
Compete agora, a quem o suceder como primeiro-ministro, terminar com este sufoco. Por isso, e só por isso, talvez um dia lhe possamos agradecer. 
Texto também AQUI

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sr. Ministro, quer a minha carteira ? - texto de Henrique Raposo

Teixeira dos Santos pensa e actua como se fosse dono das nossas carteiras. Há 14 mil (14.000) entidades dependentes do Orçamento, mas o governo não quer tocar neste enxame. Só quer tocar na nossa carteira.















Todo o texto, um pouco informal e publicado hoje, AQUI


.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fernando Pessoa - citação (verdades/opiniões)


«Toda a opinião é uma tese e o mundo, à falta de verdades, está cheio de opiniões

Fernando Pessoa - "A Procura da Verdade Oculta" (textos filosóficos e esotéricos)

sábado, 18 de setembro de 2010

António de Sousa em entrevista hoje na Antena 1

No programa "Este Sábado" da Antena 1, transmitido hoje, a partir do 3.º minuto podemos ouvir uma entrevista a António de Sousa, Presidente da Associação de Bancos Portugueses, que, a certa altura, diz: "Se o Orçamento não for aceite em termos europeus será desastroso de qualquer forma". Por outras palavras, não interessa que seja aprovado ou não na Assembleia da República, e assim sendo é completamente estéril tudo o que se tem dito ou venha a dizer-se sobre este assunto internamente. O veredicto da União Europeia é que interessa. Toda a entrevista AQUI

sábado, 11 de setembro de 2010

Robert Fisk - Nine years, two wars, hundreds of thousands dead and nothing learnt

Por ser demasiado extenso, não o traduzo, mas por me parecer muito interessante, não quero deixar de reproduzir este artigo-reflexão de Robert Fisk publicado hoje no jornal  The Independent
«Did 9/11 make us all go mad? How fitting, in a weird, crazed way, that the apotheosis of that firestorm nine years ago should turn out to be a crackpot preacher threatening another firestorm with a Nazi-style book burning of the Koran. Or a would-be mosque two blocks from "ground zero" – as if 9/11 was an onslaught on Jesus-worshipping Christians, rather than on the atheist West.
But why should we be surprised? Just look at all the other crackpots spawned in the aftermath of those international crimes against humanity: the half-crazed Ahmadinejad, the smarmy post-nuclear Gaddafi, Blair with his crazed right eye and George W Bush with his black prisons and torture and lunatic "war on terror". And that wretched man who lived – or lives still – in an Afghan cave and the hundreds of al-Qa'idas whom he created, and the one-eyed mullah – not to mention all the lunatic cops and intelligence agencies and CIA thugs who failed us all – utterly – on 9/11 because they were too idle or too stupid to identify 19 men who were going to attack the United States. And remember one thing: even if the Rev Terry Jones sticks with his decision to back down, another of our cranks will be ready to take his place.  
Indeed, on this grim ninth anniversary – and heaven spare us next year from the 10th – 9/11 appears to have produced not peace or justice or democracy or human rights, but monsters. They have prowled Iraq – both the Western and the local variety – and slaughtered 100,000 souls, or 500,000, or a million; and who cares? They have killed tens of thousands in Afghanistan; and who cares? And as the sickness has spread across the Middle East and then the globe, they – the air force pilots and the insurgents, the Marines and the suicide bombers, the al-Qa'idas of the Maghreb and of the Khalij and of the Caliphate of Iraq and the special forces and the close air support boys and the throat-cutters – have torn the heads off women and children and the old and the sick and the young and healthy, from the Indus to the Mediterranean, from Bali to the London Tube; quite a memorial to the 2,966 innocents who were killed nine years ago. All in their name, it seems, has been our holocaust of fire and blood, enshrined now in the crazed pastor of Gainesville.
This is the loss, of course. But who's made the profit? Well, the arms dealers, naturally, and Boeing and Lockheed Martin and all the missile lads and the drone manufacturers and F-16 spare parts outfits and the ruthless mercenaries who stalk the Muslim lands on our behalf now that we have created 100,000 more enemies for each of the 19 murderers of 9/11. Torturers have had a good time, honing their sadism in America's black prisons – it was appropriate that the US torture centre in Poland should be revealed on this ninth anniversary – as have the men (and women, I fear) who perfect the shackles and water-drowning techniques with which we now fight our wars. And – let us not forget – every religious raver in the world, be they of the Bin Laden variety, the bearded groupies in the Taliban, the suicide executioners, the hook-in the arm preachers, or our very own pastor of Gainesville.
And God? Where does he fit in? An archive of quotations suggests that just about every monster created in or after 9/11 is a follower of this quixotic redeemer. Bin Laden prays to God – "to turn America into a shadow of itself", as he told me in 1997 – and Bush prayed to God and Blair prayed – and prays – to God, and all the Muslim killers and an awful lot of Western soldiers and Dr (honorary) Pastor Terry Jones and his 30 (or it may be 50, since all statistics are hard to come by in the "war on terror") pray to God. And poor old God, of course, has had to listen to these prayers as he always sits through them during our mad wars. Recall the words attributed to him by a poet of another generation: "God this, God that, and God the other thing. 'Good God,' said God, 'I've got my work cut out'." And that was just the First World War...
Just five years ago – on the fourth anniversary of the twin towers/Pentagon/Pennsylvania attacks – a schoolgirl asked me at a lecture in a Belfast church whether the Middle East would benefit from more religion. No – less religion! – I howled back. God is good for contemplation, not for war. But – and here we are driven on to the reefs and hidden rocks which our leaders wish us to ignore, forget and cast aside – this whole bloody mess involves the Middle East; it is about a Muslim people who have kept their faith while those Westerners who dominate them – militarily, economically, culturally, socially – have lost theirs. How can this be, Muslims ask? Indeed, it is a superb irony that the Rev Jones is a believer while the rest of us – by and large – are not. Hence our books and our documentaries never refer to Muslims vs Christians, but Muslims versus "The West".
And of course, the one taboo subject of which we must not speak – Israel's relationship with America, and America's unconditional support for Israel's theft of land from Muslim Arabs – also lies at the heart of this terrible crisis in our lives. In yesterday's edition of The Independent, there was a photograph of Afghan demonstrators chanting "death to America". But in the background, these same demonstrators were carrying a black banner with a message in Dari written upon it in white paint. What it actually said was: "The bloodsucking Zionist government regime and the Western leaders who are indifferent [to suffering] and have no conscience are again celebrating the new year by spilling the red blood of the Palestinians."
The message is as extreme as it is vicious – but it proves, yet again, that the war in which we are engaged is also about Israel and "Palestine". We may prefer to ignore this in "the West" – where Muslims supposedly "hate us for what we are" or "hate our democracy" (see: Bush, Blair and a host of other mendacious politicians) – but this great conflict lies at the heart of the "war on terror". That is why the equally vicious Benjamin Netanyahu reacted to the atrocities of 9/11 by claiming that the event would be good for Israel. Israel would now be able to claim that it, too, was fighting the "war on terror", that Arafat – this was the now-comatose Ariel Sharon's claim – is "our Bin Laden". And thus Israelis had the gall to claim that Sderot, under its cascade of tin-pot missiles from Hamas, was "our ground zero".
It was not. Israel's battle with the Palestinians is a ghastly caricature of our "war on terror", in which we are supposed to support the last colonial project on earth – and accept its thousands of victims – because the twin towers and the Pentagon and United Flight 93 were attacked by 19 Arab murderers nine years ago. There is a supreme irony in the fact that one direct result of 9/11 has been the stream of Western policemen and spooks who have travelled to Israel to improve their "anti-terrorist expertise" with the help of Israeli officers who may – according to the United Nations – be war criminals. It was no surprise to find that the heroes who gunned down poor old Jean Charles de Menezes on the London Tube in 2005 had been receiving "anti-terrorist" advice from the Israelis.
And yes, I know the arguments. We cannot compare the actions of evil terrorists with the courage of our young men and women, defending our lives – and sacrificing theirs – on the front lines of the 'war on terror". There can be no "equivalence". "They" kill innocents because "they" are evil. "We" kill innocents by mistake. But we know we are going to kill innocents – we willingly accept that we are going to kill innocents, that our actions are going to create mass graves of families, of the poor and the weak and the dispossessed.
This is why we created the obscene definition of "collateral damage". For if "collateral" means that these victims are innocent, then "collateral" also means that we are innocent of killing them. It was not our wish to kill them – even if we knew it was inevitable that we would. "Collateral" is our exoneration. This one word is the difference between "them" and "us", between our God-given right to kill and Bin Laden's God-given right to murder. The victims, hidden away as "collateral" corpses, don't count any more because they were slaughtered by us. Maybe it wasn't so painful. Maybe death by drone is a more gentle departure from this earth, evisceration by an AGM-114C Boeing-Lockheed air-to-ground missile less painful, than death by shards from a roadside bomb or a cruel suicider with an explosive belt.
That's why we know how many died on 9/11 – 2,966, although the figure may be higher – and why we don't "do body counts" on those whom we kill. Because they – "our" victims – must have no identities, no innocence, no personality, no cause or belief or feelings; and because we have killed far, far more human beings than Bin Laden and the Taliban and al-Qa'ida.
Anniversaries are newspaper and television events. And they can have an eerie habit of coalescing together to create an unhappy memorial framework. Thus do we commemorate the Battle of Britain – a chivalric episode in our history – and the Blitz, a progenitor of mass murder, to be sure, but a symbol of innocent courage – as we remember the start of a war that has torn our morality apart, turned our politicians into war criminals, our soldiers into killers and our ruthless enemies into heroes of the anti-Western cause. And while on this gloomy anniversary the Rev Jones wanted to burn a book called the Koran, Tony Blair tried to sell a book called A Journey. Jones said the Koran was "evil"; Britons have asked whether the Blair book should be classified as "crime". Certainly, 9/11 has moved into fantasy when the Rev Jones can command the attention of the Obamas and the Clintons and the Holy Father and the even more Holy United Nations. Whom the gods would destroy...»
(sublinhado meu)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Mainstream - crónica de José Luís Pio de Abreu

… O mainstream é feito por aqueles que berram ou têm palco. Mas dado que é, por sua natureza, imitação, ele apenas se repete. Quem anda no mainstream não tem tempo para ler, estudar ou investigar, pois passa o seu tempo a repetir.
O mainstream é fruto da ignorância e da preguiça mental. Mas confere aos ignorantes a oportunidade de terem um protagonismo que não teriam de outro modo." (José Luís Pio de Abreu – todo o texto AQUI). 

E eu a pensar que era apenas impressão minha ao tropeçar com eles na blogosfera, mas se o Dr. Pio de Abreu o diz ...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dia Internacional da Literacia

Quando está ainda a decorrer a década que a Organização das Nações Unidas (ONU), através da UNESCO, dedica ao tema da Literacia (2003-2012), que veio substituir o da Alfabetização por se ter compreendido que uma pessoa alfabetizada não tem necessariamente a capacidade para interpretar o que lê e ouve nem competências para aplicar correctamente certos conhecimentos, assiná-la-se hoje mais um Dia Internacional da Literacia, que servirá principalmente para se fazer o balanço e reflectir sobre esta temática a nível mundial.
A literacia é, segundo a UNESCO, um direito humano, uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal e um meio para o desenvolvimento social e humano, essencial para a erradicação da pobreza, redução da mortalidade infantil, para alcançar a igualdade de géneros, para assegurar o desenvolvimento sustentável, a paz e a democracia, e, por isso, estes são alguns dos motivos que a levam a colocar a literacia no centro da iniciativa “Educação para Todos”.
Actualmente, a iliteracia, de acordo com as estimativas da UNESCO, caracteriza um em cada cinco adultos, dos quais dois terços são mulheres, e já há muito que se chegou à conclusão de que é nas mulheres que se tem de apostar a todos os níveis de ensino e de formação porque são elas as primeiras educadoras dos seus filhos. O número de crianças que não frequenta o sistema de ensino, estimado em 72 milhões a nível mundial, e principalmente no chamado “terceiro mundo”, pode bem ser o reflexo de ainda não se ter apostado nas suas mães neste domínio.
A UNESCO não advoga um único modelo de literacia. O conceito tem evoluído ao longo dos anos, com novas implicações tanto ao nível das políticas a implementar como dos programas que têm sido desenvolvidos. Na prática, a literacia tem mudado rapidamente nas sociedades contemporâneas fruto de uma resposta aos desafios que se impõem aos níveis social, económico e tecnológico. Daí que, o conceito de literacia da UNESCO tem vindo a transformar-se, desde uma simples noção de um conjunto de competências de leitura, escrita e cálculo até envolver múltiplas dimensões destas mesmas competências. Face às recentes transformações económicas, políticas e sociais, incluindo a globalização e os avanços na área das Tecnologias da Informação e Comunicação, a UNESCO reconhece a existência de muitas práticas no domínio da literacia com base em diferentes processos culturais, em circunstâncias pessoais e nas estruturas colectivas que se desenvolvem. No portal  divulgado é possível aceder, entre outros conteúdos, ao programa estabelecido pela agência, em particular no âmbito da Década das Nações Unidas para a Literacia, assim como a materiais dedicados ao desenvolvimento da literacia e de programas de educação para adultos em comunidades linguísticas minoritárias.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tempo e Paciência - texto de Carlos Fiolhais

Mais um texto que reflecte sobre o que muitos já sabemos, desta vez da autoria de Carlos Fiolhais, publicado ontem no Público e no De Rerum Natura, onde o li, sobre as nossas idiossincrasias que, a maior parte das vezes, atrapalham o nosso desenvolvimento:
«As notícias de meados de Agosto davam conta de que a economia alemã tinha crescido 2,2 por cento do primeiro para o segundo trimestre deste ano, um número recorde desde a reunificação, enquanto a economia portuguesa tinha crescido no mesmo período uns míseros 0,2 por cento. É caso para dizer que a locomotiva da Europa bem puxa, mas as carruagens da cauda teimam em não andar.
Se se quer perceber porquê, não há nada como dar um salto à Alemanha. Apartei-me do estio português a meio de Agosto, logo a seguir às notícias do crescimento desigual, em busca das razões da desigualdade. Para chegar ao aeroporto de Lisboa tinha-me socorrido de um táxi, mas, à chegada ao aeroporto de Colónia-Bona, tal já não foi preciso, pois logo um comboio me esperava, com rigorosa pontualidade, para me deixar, escassos minutos depois, na Hauptbanhof de Colónia, onde pude tomar o metro. O hotel onde fiquei deu-me depois um passe de transportes urbanos para os dias da estada, prática comum a várias cidades europeias. O sistema de transportes regional está bem planeado e funciona, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, de acordo com o afixado. As entradas e saídas do metro estão abertas, pois a fiscalização é apenas ocasional. Menschen bewegen (Mover pessoas) é a divisa da empresa de transportes urbanos. Tudo está feito para poupar tempo. Em Lisboa, apesar dos investimentos brutais realizados com dinheiros europeus (isto é, alemães) em detrimento de outras zonas do país, não há nem comboio nem metro até ao aeroporto. E toda a gente perde imenso tempo. 
Sempre que regresso à Alemanha sei que reentro num país onde não só os relógios funcionam como as pessoas funcionam de acordo com os relógios, cumprindo os planos que estabeleceram. E pergunto de cada vez a mim próprio como é que os alemães conseguem lidar com o problema do tempo português quando se deslocam, em trabalho ou em férias, ao nosso país. Numa livraria, que as há boas na baixa de Colónia, comprei, por isso, o livro Gebrauchsanweisung für Portugal (Piper, 5ª edição, 2010), em português Manual de Instruções para Portugal, do jornalista Eckhart Nickel. O autor fornece as palavras-chave para sobreviver numa visita a Portugal: tempo e paciência (Zeit und Geduld). Escreve: “Percorrer Portugal em meios de transporte públicos exige tempo e paciência”. Conjecturo que a segunda palavra só existe na língua alemã por causa da eventual necessidade de deslocação ao extremo oeste da Europa... Não foi há muitos anos que uma colega alemã ficou estupefacta por nem sequer encontrar horários de autocarros em Portugal. Tinha simplesmente de esperar com a necessária paciência pelo próximo. Agora, o jornalista queixa-se de que os horários de transportes são dados de um modo encriptado. Por exemplo, os horários de autocarro têm notas de rodapé do tipo: “De 16/9 a 30/6 aos sábados (ou sextas feiras se for feriado) ou segundas-feiras (ou terças-feiras se for dia seguinte a feriado)”. Essas indicações, convenhamos, desanimam qualquer passageiro, que, se desesperar na espera, terá de chamar um táxi. O autor previne os visitantes a Portugal: “Quem tem tempo, é aqui um rei, mas quem não tem não devia cá vir. Pois até os horários de abertura [de serviços] não passam de meras recomendações: dentro deles ser-se-á com sorte atendido por funcionários que se movem com a velocidade de uma lagosta num aquário”. 
Já éramos assim antes do 25 de Abril e pouco mudámos. Curt Meyer-Clason, que dirigiu o Instituto Goethe em Lisboa nos anos 70 do século passado, escreveu nos seus Diários (Portugiesicher Tagebuecher, Athenäum, 1979), numa entrada de 1972: “O tempo português é uma substância que se deixa evaporar”. Como é que um povo que não faz planos claros, não tem serviços públicos decentes e não respeita quaisquer horários pode aspirar ao mesmo produto interno bruto que os alemães? Como é que um país cujo primeiro-ministro se compraz em chegar atrasado a eventos oficiais pode apanhar o comboio da Europa? Não pode. Ainda que tenha muito tempo e paciência.»