terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

"A origem do mundo" e o fim do mundo

Zurzir na PSP por desconhecer o quadro A origem do mundo, de Gustave Courbet, é tão fácil, não é? Quanto aos cidadãos que apresentaram as queixas que estiveram na origem da actuação da PSP, o que é que ficámos a saber? Quais as suas motivações? Terá sido apenas por desconhecimento de História da Arte?
Não me admirava nada que agora, para completar o quadro, alguns partidos políticos chamassem alguém à Assembleia da República para prestar esclarecimentos.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

"Detector de ódio" e "Odiómetro" - precisam-se

Se os investigadores da polícia devem seguir o rasto do dinheiro para chegarem a eventuais responsáveis por crimes que envolvam dinheiro, o que será necessário fazer para detectar o que despoletou o ódio ao Primeiro-Ministro de Portugal, derramado diariamente por alguns órgãos de comunicação social?
Sabemos que o ódio não é algo de tangível como o dinheiro, mas sente-se, tem intensidade, esmaga, corrói, provoca náusea, e quase se pode ver a sua cor, talvez parecida à da bílis; e tem um início, talvez uma palavra, uma atitude.
Sem "detectores de ódio" nem "odiómetros" qual a pista que devemos seguir para chegarmos a esse ponto x que originou este ódio? Ou será apenas irresponsabilidade e mau gosto?
Em Portugal, o conceito de "accountability" não se aplica aos jornalistas, porquê?
(Declaração de interesses: nunca votei nos partidos de poder porque me interessa mais votar no pluralismo de ideias, quer sejam de direita ou de esquerda, nunca me filiei em qualquer partido do mesmo modo que nunca me associei a um clube desportivo, para preservar tanto quanto possível a imparcialidade nos juízos que faço e cultivar o "não-ódio"; nunca faltei a um acto eleitoral ou referendário.)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A crise no quotidiano

Para contrabalançar a dor de alma que são as entrevistas que alguns jornalistas fazem a quem está sem emprego ou na iminência de ficar sem ele, ou sem casa, ou sem comida, ou tudo junto, deixando-nos com a sensação de que o país inteiro está desempregado, sem-abrigo, esfomeado, na miséria total, exponho uma experiência pessoal vivida há dois dias (um dia de semana, portanto), à hora de almoço, num supermercado próximo:
Parque de estacionamento cheio, supermercado cheio, com quase todas as caixas a funcionar, filas de pessoas à espera de vaga para se sentarem a uma mesa no restaurante que o supermercado possui, filas nas secções do talho, do peixe e na de comida confeccionada para levar para casa, a secção de cafés, dos bolos e dos pãezinhos com algo dentro, bem composta, a fisionomia das pessoas descontraída.
Não havendo departamentos públicos nos arredores deste estabelecimento, e, como sabemos, só os funcionários públicos tiveram aumentos substanciais nos ordenados este ano e têm emprego garantido, podemos concluir que a maioria daquelas pessoas trabalha nas micro, pequenas, médias e grandes empresas privadas que, dessas sim, há muitas naquele local. E ainda bem!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Luísa Amaro - novo CD "Meditherranios"

Luísa Amaro vai apresentar ao público no próximo sábado em Lisboa, no Museu do Oriente, o seu último trabalho; um disco surpreendente onde a sua guitarra portuguesa é acompanhada por um piano, tocado por Mário Laginha, um saxofone e um guitolão (este inventado por Carlos Paredes). O resultado é de uma beleza e de uma qualidade muito raras. O CD "Meditherranios".

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

cansaço, cansaço, cansaço...

Oh que cansaço destes infindáveis dias cinzentos, da chuva, do frio; cansaço do que se diz e do que se escreve (com belíssimas excepções). Só não me canso de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), mesmo quando fala de cansaço. Neste dia de sol e céu azul que nos acordou hoje, ouçamos o Poeta:
O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Ìssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), 1934