domingo, 31 de outubro de 2010

Política e iPod - Crónica de Martim Avillez Figueiredo

Sócrates e Passos Coelho descobriram que mentir compensa. Descubra porquê num regresso à Índia e numa visita ao algoritmo do iPod shuffle.

Pedro Passos Coelho está a aprender com José Sócrates. Está a desaprender – percebeu que o rigor não é a melhor das estratégias políticas. É pena: Sócrates precisa de quem combata os seus golpes baixos com frases claras e ideias simples. Mas os dois estão a brincar com os números. Em 1943, o secretário de Estado para a Índia, um inglês de pouco cabelo e óculos largos, disse numa declaração pública que as mortes provocadas pela fome na região de Bengala deveriam ser umas mil por semana. Mas acrescentou que não tinha a certeza. Dois dias depois, o governador de Bengala, essa região que incluía Calcutá e que os portugueses conheceram tão bem, contrariou: "Eu colocaria a fasquia das mortes nas duas mil por semana". Colocaria... A crise política que estalou logo a seguir terminou com a criação de uma Comissão de Inquérito à Fome que, dois anos depois, em Dezembro de 1945, chegou à seguinte conclusão: as mortes provocadas pela fome, todas as semanas, não são mil nem duas mil. São 26 mil mortes. Esta facilidade com que os ingleses manipularam números e a ausência de rigor com que falaram sobre eles lembram Sócrates e Passos Coelho. Estes, tal como os governantes britânicos, falam de números dramáticos como se estivessem a conversar num café. Pior: trocam-nos entre si como se trocam posts no Facebook, onde aquilo que se diz agora não tem de ser igual ao que se diz uma hora depois. Mas há limites. A economia portuguesa tem poucas saídas nos próximos três anos, mas pelo menos numa todos os economistas e especialistas convergem – é preciso dar competitividade aos produtos portugueses. Como não se espera que, em três anos, alguém invente e comercialize o próximo grito mundial, sobra a solução de reduzir custos nas empresas. Pode ser via salários, claro – mas é mais legítimo defender que o corte seja fiscal. Nem Sócrates nem Passos Coelho aceitam esta ideia. E o que custa não é ver repetida a teimosia e a mentira de Sócrates: essa tem sido a história do último ano. O que os portugueses não encaixam com facilidade é perceber que a sua alternativa já comete proezas semelhantes. O PSD disse há duas semanas (através de Miguel Relvas) que ponderava aceitar a subida do IVA, mas pedia: reduza-se a taxa social única. Esta semana, quando falou ao país, o PSD já tinha ideias diferentes e muito menos comprometedoras – eram ideias, na verdade, que qualquer um poderia ter defendido. Em linguagem de café, chama-se baralhar e voltar a dar. Steve Jobs, esse génio que criou o iPod, foi obrigado pouco tempo depois de lançar o iPod shuffle a explicar de que forma, afinal, aquele aparelho misturava as músicas. Para as pessoas sobrava a dúvida: se era mesmo ao acaso, porque se repetiam músicas? Jobs veio explicar, anunciando que alterara o algoritmo: "Fizemo-lo menos aleatório para parecer mais aleatório". A política portuguesa está igual. Mistura as mesmas músicas, baralha tudo mas, no final, fala do tema como se de uma ciência exacta se tratasse. Pior: fala do tema com o mesmo nível de certeza do secretário de Estado para a Índia, mas esquecendo de dizer o que um cavalheiro não esquece: "Não tenho a certeza". Uma certeza Portugal pode ter: José Sócrates não tem condições para governar Portugal, mesmo que mude o algoritmo. Passos Coelho, até aqui, tem dado sinais errados – mas ainda está a tempo de mudar o disco. 

 

Texto publicado na edição do Expresso de 23 de Outubro de 2010 e ontem aqui.

sábado, 30 de outubro de 2010

Preferem: Tango, Flamenco ou Valsa?

Continuamos na fase do tango entre dois homens. Alguns cidadãos, pelo menos nestes dias, têm andado com os pés nas águas da chuva, o que faz descer a temperatura das cabeças, e refrescá-las, pelo que não têm dado muita importância à dança. Mas deixo aqui uma amostra em versão "moderna":

 

Nesta canção/dança "flamenca" já temos a representação dos dois géneros, o que torna o diálogo bem mais interessante:



Por último, na valsa, e com os pares multiplicados, que parecem estar mais felizes, porque mais prósperos e em muito boa companhia, no centro da Europa. E nós? Vamos insistir em puxar para baixo?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A fronteira da pobreza - Crónica de Adriano Moreira


Há anos que os sinais da evolução do Estado português para a condição de Estado exíguo, isto é, com uma relação deficitária entre recursos e objectivos imperativos da governação, cresciam de aviso e de significado. Nesta data, em que a invocação da soberania repetidamente aflora como defesa contra as consequências das debilidades, e para impedir a erosão da igual dignidade na comunidade internacional, a circunstância de que sem capacidades não existe real estatuto internacional igual, implica assumir o dever da solidariedade de todas as forças políticas para que, adoptando uma plataforma comum, reponham a confiança da população e tornem aceitáveis, com determinação, os sacrifícios exigíveis, remetendo para outro plano de intervenção constitucional a averiguação e imputação de culpas, de imprevisão, de falta de autenticidade, e de má governança.
A restauração do valor da confiança na relação global do Estado com a sociedade civil continua a ser a maior exigência no sentido de conseguir a mobilização das vontades dos cidadãos para que não se agravem nem as carências nem os temores, estes piorados pelo diálogo tantas vezes mais descredibilizante dos adversários do que esclarecedor das circunstâncias. Não parece de ignorar que por todo o Ocidente, e portanto também pela Europa, a debilidade das lideranças é evidente e preocupante, que a sociedade civil europeia mostra em vários lugares a insatisfação, agravando os medos, por uma desobediência civil violadora de todas as regras do civismo responsável.
Tardam a aparecer as vozes renovadoras e mobilizadoras das solidariedades e das esperanças que deram provas de capacidade quando a devastação da última guerra exigiu enfrentar um desastre sem comparação com a crise actual, vozes que não eram as dos responsáveis pelo cataclismo, era uma nova geração de cidadãos que não rejeitava os cargos políticos, as dificuldades, nem as definições de novos futuros. A questão do Estado social ameaça desenvolver-se ao contrário desta exigência, quando a sua principiologia é indicativa e não imperativa, vem na Carta dos Direitos Humanos e diplomas complementares da ONU, e está plasmada nos assumidos Objectivos do Milénio, dos quais a ONU não desiste embora lute pelos meios que escasseiam. Não pode exigir-se o seu desenvolvimento quando os meios, mas não a vontade, evidentemente faltam, mas renunciar aos princípios é como que deitar fora a esperança, sem a qual enfraquece a determinação cívica. A sociedade civil tem o dever e o poder de abrir caminho a uma nova geração de responsáveis, de mobilizar o civismo dos melhores para não recusaram os cargos políticos, e não ficar submetida a um dogma de enquadramento partidário inviolável que não vigora nos Estados parceiros da União. Porque, se a situação conhecida é grave, a prospectiva não é animadora de uma melhoria próxima, nem o futuro das próximas gerações lhes pode ser anunciado fácil. Mas sem a reposição da confiança na relação entre a sociedade civil e o Estado, em todas as vertentes da soberania e da administração autónoma ou não autónoma, é difícil que a decisão de os melhores ficarem não seja ultrapassada pela vontade crescente de partirem em busca de outro futuro e segurança.
A regra de que o subdesenvolvimento tem a sua mais grave expressão no facto de a sociedade precisar do técnico, ter o técnico, e não ter emprego para o técnico, parece animar a emigração dos quadros. Numa circunstância em que a fronteira da pobreza, que, durante o século passado, o PNUD desenhava excluindo a cidade planetária do Norte, abundante, afluente, e consumista, está a deslocar-se para o Norte do Mediterrâneo, onde não abundam as vozes que assumam responsabilidades pelo desastre do globalismo económico e financeiro sem governança, e o aparecimento de responsáveis da nova geração, determinados, competentes, e desassombrados, que não esqueçam os imperativos do humanismo, tarda a verificar-se. A sociedade civil tem o dever de tentar abrir caminho a uma nova geração de responsáveis, que coloque um ponto final na decadência dos ocidentais.

Texto no DN de hoje

sábado, 23 de outubro de 2010

Saramago e Deus - Crónica de Anselmo Borges

Passado o rebuliço mediático, quereria escrever sobre o tema em epígrafe. Só sobre ele. Deixo, pois, as questões literárias, partidárias, políticas, incluindo a nódoa indelével daquele desgraçado despedimento de 22 jornalistas do DN por delito de opinião. Exijo-me este texto, até porque, numa entrevista a João Céu e Silva, Saramago se me referiu com admiração por ter lido e gostado do seu livro Caim: "Até fiquei surpreendido quando ouvi um teólogo - uma coisa é um teólogo e outra um padre -, Anselmo Borges, dizer que tinha gostado do livro".
 Quem, no meu entender, melhor escreveu sobre o tema foi Eduardo Lourenço. Entre outras coisas, porque introduziu o pensar sobre o ateísmo até ao limite. "O que designamos por 'ateísmo', na sua literal acepção, significa, geralmente, mais do que o seu conteúdo dialecticamente negativo. Denota um relacionamento de grau nulo com o referente Deus. É tão impensável ou inacessível na sua ordem como a pura transcendência, que é conteúdo real ou imaginário de Deus. Ser ateu é só ser e estar ‘sem Deus’. Perspectiva tão vertiginosa como a que a referência a Deus assinala, sob o modo de uma 'ausência' tão impensável como a de Deus e não menos 'abscôndita', só que mais dolorosa, que a da presença das presenças."
Segundo a tradição e na modernidade, "considerou-se ateu e deve assim ser considerado o sujeito para quem 'o nome' e, sob ele, a mesma ideia de Deus - não o conceito - não tem sentido algum." Mas não haveria mais motivo para designar como "ateu" quem "tivesse a pretensão de o objectivar, ou de conceber claramente, o que ele mesmo chama Deus"? Afinal, verdadeiramente ateus não seriam precisamente "os chamados teólogos, pelo menos os clássicos - anteriores a Karl Barth -, que sabiam tudo de Deus, ou que sabem tudo de Deus"?
Exceptuando os místicos, é raríssimo o crente que se apercebe de que perante Deus só o silêncio é que diz, pois, no limite, Deus é nada do que dele o linguajar humano possa dizer. Ouvi uma vez a Jacques Lacan: "os teólogos não crêem em Deus, porque falam dele". E também Karl Barth, o maior teólogo protestante do século XX, disse que conhecia muito bem um certo ateu: justamente Karl Barth.
Há dois modos de negação de Deus: a negação real e a negação determinada.
Por negação determinada, entende-se a negação de um determinado Deus, de uma certa imagem de Deus. Foi o que Saramago fez. Como podia ele ou alguém intelectualmente honesto aceitar um deus cruel e sanguinário?
No Caim, é essa imagem do deus violento e arbitrário que denuncia. Não é de facto a Bíblia judaica, no dizer do exegeta católico Norbert Lohfink, "um dos livros mais cheios de sangue da literatura mundial"? De qualquer modo, o nome de Deus foi demasiadas vezes invocado para legitimar a violência e o derramamento de sangue de inocentes.
É certo que no Novo Testamento, na única tentativa de "definir" Deus, se diz que "Deus é amor incondicional". Mas também há acenos para uma interpretação sacrificial da morte de Cristo, teorizada sobretudo por santo Anselmo e desde então muito pregada: Deus precisou da morte do seu próprio Filho, para reparar a ofensa infinita cometida pelos homens e assim reconciliar-se com a humanidade. Ora, precisamente perante esta concepção sacrificial da sua morte como preço do resgate do pecado, como não entender a inversão da oração de Cristo na Cruz? Onde, no Evangelho, se diz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem", lê-se, em Saramago: "Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez".
A negação determinada não significa negação real. A pergunta é, portanto, se Saramago negou realmente Deus ou se, pelo contrário, na negação do deus arbitrário e sanguinário, não está dialecticamente presente o clamor pelo único Deus verdadeiro, o do Anti-mal. De qualquer modo, segundo Saramago, "Deus é o silêncio do universo, e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio". "Esta definição de Saramago é a mais bela que alguma vez li ou ouvi", escreveu o teólogo Juan José Tamayo.
Texto no DN de hoje

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Miguel Portas - E sanções para a estupidez, não há? - no P.E. a 20/10/2010


Não é outro modo de dizer que "a estupidez devia pagar imposto"? E, se assim fosse, saberíamos alguma vez o que é um défice excessivo, se o único excesso fosse, precisamente, o da estupidez?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

E esta?... Claro que é pura coincidência!

A partir do dia 18/09/2010, em que divulguei a entrevista de António de Sousa à Antena 1, (que me trouxe à memória o que eu já tinha escrito sobre a decisão da União Europeia querer analisar previamente os Orçamentos dos Estados-membros), e onde ele afirmou que, “se o Orçamento não for aceite em termos europeus será desastroso de qualquer forma”, não mais levei a sério a palração diária sobre este assunto, uma vez que não passa de puro exercício de retórica na tentativa de ninguém perder a face (PS e PSD) e, por isso, ouço-os, mas para exercitar a minha paciência. Daí os meus textos se terem voltado para outras causas.
No entanto, duas notícias despertaram recentemente a minha atenção. Uma, há alguns dias, e que não recordo em que estação de rádio a ouvi, em que se dizia que Pedro Passos Coelho estava a pensar em apresentar uma proposta no sentido de se reduzir o tempo que medeia entre a convocação de eleições e a tomada de posse de um novo governo, uma vez que por cá tudo isto demora meses. O que escrevi em “Esboço de mensagem a Pedro Passos Coelho”, que publiquei a 30/06/2010, e que, para ter a certeza de que ele ou alguém por ele, a lia, também publiquei na sua página do Facebook, e em que, de entre as minhas sugestões, digo assim na n.º 3: – Alteração da Lei Eleitoral, e da Constituição se para tal for necessário, de modo a podermos ter, à semelhança dos Ingleses, campanha eleitoral, debates, eleições e tomada de posse do novo governo num período de três semanas. (Um autêntico sonho!)
A outra notícia diz respeito a José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda (BE), a quem ouvi hoje, nas notícias das 16:00 na Antena 1, a descrever as medidas da proposta de Orçamento do BE, demonstrando que não seria necessário aumentar os impostos se se reduzissem a sério as despesas de funcionamento do Estado. As tais despesas intermédias de que Paulo Portas do CDS-PP também tem referido. Tudo isso está nos textos que escrevi. A 25/03/2010, “Hoje será um dia como os outros?, no penúltimo parágrafo, disse: Não creio que este PEC seja o que o país necessita. Preferia que contivesse cortes sérios nas despesas de funcionamento do Estado, entre outras, e que não se incomodassem os contribuintes com salários ou reformas inferiores a mil euros. Mas também sei que o país só tem a perder com uma crise política, e é o país que me interessa, por isso é este PEC que temos, será este que temos que cumprir até 2013, a não ser que a Comissão Europeia faça connosco o que fez com a Grécia que teve que elaborar três documentos até ser aceite. (Agora já vamos em que PEC?). A 21/04/2010, “A economia crescerá com pensamento positivo?” (A ironia também serve para tratar de assuntos sérios). A 14/05/2010, “José Sócrates opta por um penso-rápido para enfrentar os problemas do país”, entre outros.
Como os políticos referidos têm mais que fazer do que lerem o meu blogue e não sendo consultora de qualquer deles, nem querendo sê-lo, só posso admitir que o mais comum bom-senso visitou aquelas cabecinhas. Mas tratando-se de políticos portugueses e “à portuguesa”, com a mesma velocidade com que o bom-senso os visitou também pode desaparecer sem deixar rasto.
E para já é suficiente para demonstrar também como não me hei-de sentir cansada de ler e ouvir todos os dias os tagarelas de serviço do país andarem à volta destas questões, sem irem ao ponto fulcral, autores de blogues incluídos.

domingo, 17 de outubro de 2010

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza / Bloggers Unite

Onde quer que homens e mulheres estejam condenados a viver em extrema pobreza, os direitos humanos estão a ser violados. Unirmo-nos para assegurar que estes direitos sejam respeitados, é o nosso objectivo e também o nosso dever.
O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza é assinalado todos os anos, e em todo o mundo, a 17 de Outubro. Foi reconhecido oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, mas a primeira manifestação sobre este problema/tragédia, teve lugar em Paris, França, em 1987, quando 100.000 pessoas se juntaram na Praça dos Direitos Humanos e das Liberdades, no Trocadéro, em memória das vítimas da pobreza, da fome, da violência e do medo.
Quanto ao Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, que está a decorrer, estamos conversados, pois todos os dias assistimos à tomada de medidas que vão aumentar a pobreza e a consequente exclusão social.
Parece-me adequado ver este vídeo com a canção “Offer” (traduzida), interpretada por Alanis Morissette, com uma mensagem incómoda e poderosa:

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Blog Action Day 2010: ÁGUA







A água é considerada o mais essencial dos elementos, algo que, alguns de nós, tomam por garantido. Quem é que não tem água potável, não é? Aparentemente, uma em cada oito pessoas. Quem diria! Sabia disso? E que 2/5 da população mundial não tem acesso a um sistema de esgotos? E que o corpo humano é constituído por quase 80% de água? Disto talvez muitos saibam e, por isso, deviam também saber que a água nos é, precisamente por isso, vital.
Água como um Direito Humano: A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o acesso a água potável e ao saneamento básico como direitos humanos, apesar da objecção dos Estados Unidos da América. Hoje, quase mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável. More Info »
Mulheres: Em África, são principalmente as mulheres que têm a responsabilidade do abastecimento de água. Caminham mais de 40 mil milhões de horas por ano carregando recipientes que pesam mais de 18 quilos para abastecer de água a sua comunidade, água que, em regra, não é segura para beber. More Info »
Oceanos poluídos: A poluição não é apenas má para o ambiente, fica também muito dispendiosa! Mortes e doenças causadas por águas costeiras poluídas custam à economia global $12.8 mil milhões de dólares por ano. More Info »
Rios mortos: Hoje, 40% dos rios e 46% dos lagos americanos, estão demasiado poluídos para se poder pescar, nadar, ou para a vida marinha. O que não surpreende, considerando o facto de 1.2 triliões de galões (nem converto!) de esgotos não tratados e de lixos industriais serem descarregados, anualmente, nas águas americanas. More Info »
Pegada ecológica dos alimentos: Sabe qual é o valor da pegada ecológica da sua comida? Por exemplo, são necessários 75 litros de água para fazer um copo de cerveja e 15.500 litros para fazer um quilo de carne. More Info »
Guerras da água: Muitos professores, investigadores e analistas políticos atribuem o conflito no Darfur, pelo menos em parte, à falta de acesso à água. Com efeito, um relatório comissariado pelo Programa para o Desenvolvimento, da ONU, conclui que no século XXI a escassez de água se tornará numa das principais causas de conflito em África. More Info »
Pegada ecológica da tecnologia: Em média, por dia, 500 mil milhões de litros de água passam pelas centrais eléctricas americanas para fornecer energia a toda a tecnologia usada diariamente. Por exemplo, aquele novo iPhone que trazem no bolso requer meio litro de água para ser recarregado. Pode não parecer muito, mas com, aproximadamente, 6.4 milhões de iPhones activos nos EUA, são necessários 3.2 milhões de litros de água para os recarregar. More Info »
Água engarrafada: Embora as pessoas nos EUA tenham acesso a água potável de qualidade nas suas torneiras, bebem em média 200 garrafas de água por pessoa por ano. São necessários mais de 17 milhões de barris de petróleo para fabricar essas garrafas para a água, 86% das quais nunca serão recicladas. More Info »
Crianças: Todas as semanas, cerca de 38.000 crianças com menos de 5 anos, morrem devido a água imprópria para beber e por falta de condições de higiene. More Info »
Como, em Portugal, continuamos com a crónica falta de elementos ou de estudos sobre este assunto, recorri a indicadores fornecidos por ONG internacionais, que, encontrando-se no terreno, têm conhecimento directo do que falam. Por outro lado, tendo ficado a saber, através de mensagem que a Blog Action Day 2010 me enviou no passado dia 12, que o blogue da Casa Branca também vai contribuir com um texto hoje, tenho curiosidade em lê-lo, dado os maus exemplos americanos que aqui divulguei no que respeita a água.
Blog Action Day 2010: Water
Blog Action Day 2010: Water from Blog Action Day on Vimeo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A história da carochinha - crónica de João César das Neves


Era uma vez uma carochinha que um belo dia andava a varrer a casa e encontrou uma moeda nova. Bem, não era propriamente uma moeda, mas apenas um papelinho, chamado Tratado de Maastricht, que dizia que, se ela se portasse bem, um dia podia ter a moeda única. A carochinha ficou muito contente, vestiu o seu melhor vestido e pôs-se à janela a cantar:
- Quem quer casar com a carochinha, que é formosa e bonitinha?
Passou por ali naquela altura um leão, chamado Cavaco, que disse: "Quero eu! Quero eu!" Mas o leão rugia muito alto, e garantia que para ter uma moeda única era preciso trabalhar, ter competitividade e vencer o desafio europeu. A carochinha respondeu:
- Ai que voz essa? Com tanto barulho não me deixas dormir! Contigo é que não quero casar!
O leão foi-se embora, voltando para a sua universidade, e a carochinha tornou a cantar:
- Quem quer casar com a carochinha, que é formosa e bonitinha?
Passou então um pato chamado Guterres, que disse "Quero eu! Quero eu!" O pato Guterres tinha uma viola e cantava muito bem sobre diálogo, coração, paixão da educação e outras coisas lindas. Foi então que veio a notícia de que a carochinha tinha sido aceite na moeda nova, o euro. Ficaram os dois muito contentes e, como estavam mesmo a planear casar-se, o pato comprou um grande caldeirão.
Durante um tempo os dois pareciam muito felizes mas, como o caldeirão tinha um furo, o pato gastava cada vez mais dinheiro para o encher e começaram a endividar-se nas mercearias das redondezas. A dívida externa da carochinha, que era de 8% do PIB quando o pato chegou, já ia nos 50%. Então o pato fugiu. Diz-se que foi cantar para a ONU, e de vez em quando ainda se ouvem as suas músicas na televisão.
A pobre carochinha, com a moeda única e a dívida do caldeirão a subir, foi de novo pôr-se à janela à procura de marido, cantando a sua canção. Nessa altura passou por ali o coelho Barroso, muito saltitão, que disse "Quero eu! Quero eu!"
Quando viu a situação, o coelho Barroso achou que a carochinha estava de tanga e começou a rugir como o leão. Só que agora, como de qualquer maneira não conseguia dormir de aflição por causa da dívida, a carochinha lá se conformou com o barulho, desde que se fizesse alguma coisa para resolver o buraco no fundo do caldeirão.
O coelho até tinha bons planos, mas um belo dia passou por ali uma carochinha belga, muito bonita e muito rica. Ela e o coelho apaixonaram-se e fugiram juntos, deixando a carochinha outra vez sozinha com a moeda única e o caldeirão. E já voltou a pobre à janela e à sua canção.
Até que passou por ali o belo galo Santana, que cantava muito bem. Só que o pai da carochinha, que não gostava nada de galos, expulsou-o rapidamente e eles nem tiveram tempo de conversar.
Mais uma vez a pobre carochinha teve de regressar à sua janela e à sua canção, enquanto a dívida externa do caldeirão já ia nos 65% do PIB. Passou finalmente o José Ratão, que disse logo que resolvia tudo. Este não rugia, como o leão ou o coelho, nem cantava, como o pato ou o galo. O que ele fazia era falar. Falava, falava muito. Tinha imensas ideias excelentes. Dizia que a solução era o Simplex, as reformas da administração pública, Segurança Social e outras coisas, e até ia conseguir tirar do caldeirão grandes obras, como o TGV, aeroportos e auto-estradas, tudo em parcerias público-privadas baratíssimas.
A carochinha ficou apaixonada e decidiu casar-se depressa até porque, apesar da conversa do José, as coisas estavam cada vez pior. Não só a dívida já ia acima dos 100% do PIB, mas na aldeia falava-se de uma vizinha, a carochinha grega, também solteira e com um caldeirão ainda maior, a quem as mercearias já ameaçavam atirar ao lobo FMI. Mas o Ratão sossegou-a, garantindo que a culpa da situação era das agências de rating e que ele resolveria tudo com PEC. Só que, quando se debruçava no caldeirão para tapar o buraco com o terceiro PEC, caiu lá dentro.
Assim acaba a história da linda Carochinha que achou uma moeda e do seu José Ratão, que morreu cozido e assado no caldeirão.
Também AQUI.

domingo, 10 de outubro de 2010

10/10/10 Global Work Party - vai participar?

Se ainda não decidiu em qual dos eventos vai participar neste dia para a consciencialização sobre o problema das alterações climáticas proposto pela organização internacional 350.Org/, veja este Mapa. Quem sabe se não haverá uma concentração bem perto de si, aumentando assim o número de pessoas que se reunirão em todo o mundo com o propósito de enviar uma mensagem clara aos participantes na próxima Cimeira sobre Alterações Climáticas que se realizará em Dezembro, no México, ao mesmo tempo que  poderá passar uma horas agradáveis e saudáveis de convívio, com passeios a pé, de bicicleta ou por qualquer outro meio não poluente, a partir das 10:00 horas de hoje.
Quem residir em Vila Nova de Famalicão ou nos concelhos e freguesias vizinhas, não deixe de consultar o blogue Sustentabilidade É Acção, da incansável Manuela Araújo, onde encontrará todo o programa da Caminhada pelo Clima em Famalicão, que também poderá consultar AQUI, bem como outros eventos similares noutras regiões do país.
Se o temporal der tréguas, estarei junto ao Padrão dos Descobrimentos.

sábado, 9 de outubro de 2010

Domestic Violence Awareness Month

Durante o mês de Outubro, e em conjunto com os amigos da Organização Bloggers Unite, cada um escolhendo o dia que mais lhe convier, procuraremos sensibilizar para o gravíssimo problema, e também crime, que é a violência doméstica, de cujas vítimas, principalmente das mortais, ouvimos falar todos os dias no nosso país.
Tanto os homens como as mulheres podem ser vítimas de violência doméstica. Tanto os homens como as mulheres podem ser os agressores na violência doméstica. E tanto as vítimas como os agressores necessitam de ajuda. Ambos têm de afastar-se um do outro e desse ciclo de violência. Se houver crianças envolvidas, quer como vítimas de violência quer como espectadores inocentes da mesma, devem ser também afastadas desse ambiente. A violência doméstica não causa apenas danos físicos.
Se é vítima de violência doméstica, veja-se ao espelho e aprecie o seu próprio valor. O amor nada tem a ver com abusos físicos ou psicológicos. Ninguém tem o direito de agredir quem quer que seja.
Aos primeiros sinais, tanto a vítima como o agressor, devem procurar ajuda antes que seja tarde demais.
Embora criadas muito recentemente, em Portugal, há  já postos de Polícia com equipas mistas para darem apoio especificamente a vítimas de violência doméstica e com capacidade para encaminharem todo o processo para um Tribunal, no mais curto espaço de tempo.
Outro tipo de apoio, incluindo o psicológico, tem sido prestado pela APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima nos últimos 20 anos, apoio que se estende a vítimas de qualquer tipo de crime, com o telefone 707 200 077.
Como ficou ao nosso arbítrio escolher algo que possa simbolizar a manifestação do verdadeiro amor, escolhi o belíssimo poema de José Carlos Ary dos Santos
Estrela da Tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Ary dos Santos









Com especiais cumprimentos para a Bloggers Unite

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Heteronimia de Sócrates?


Este vídeo "Sócrates vs Sócrates" é uma montagem excelente, e inteligente, que nos mostra de uma maneira muito fácil e directa as contradições nos argumentos políticos consoante a posição que se ocupa em dado momento.





quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Senhores deputados, já pensaram na opção sueca?

É tão simples o que podemos fazer para cortar nas despesas de funcionamento do Estado  em Portugal! Para o corte de despesas na estada em Lisboa dos deputados de outras regiões, durante a semana, que sigam o exemplo dos parlamentares suecos (1.º vídeo). No que respeita à transparência sobre o que fazem e decidem e no contacto com os cidadãos,  bem como na prestação de contas, também (2.º vídeo). E há tantas outras áreas onde se desperdiça o dinheiro dos contribuintes portugueses e que podia enumerar mas, para já, fiquemos por estes exemplos. Penalizar os mais desfavorecidos com impostos é que é vergonhoso e demonstra a má gestão dos dinheiros públicos.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

António José Seguro, felizmente, não perdeu a lucidez

Acabei de ouvir na Antena 1 o deputado socialista António José Seguro, em declarações que já tinha feito ontem à noite à Agência Lusa, e em que considera «inaceitável» que, em tempo de crise, os sacrifícios não sejam feitos pelos que mais têm.
«Acho inaceitável que quando se pedem sacrifícios aos portugueses não sejam todos os portugueses, em particular aqueles que mais têm, a dar esse exemplo e a fazerem esses sacrifícios».
Para o deputado do PS, que é também presidente da comissão de assuntos económicos na Assembleia da República, os portugueses «estão fartos de fazerem sacrifícios sem verem resultados e é preciso que os sacrifícios estejam ligados aos resultados».
O combate à crise é, na sua opinião, uma tarefa geral «mas, em primeiro lugar, de todos aqueles que têm responsabilidades na direcção do país, das regiões e das autarquias»
É muito bom saber que António José Seguro pensa pela sua própria cabeça, não pertencendo àquele grupo de pessoas que caracterizo de "rebanho", que, por não terem pensamento próprio nem capacidade de análise crítica, se limitam a seguir a corrente.
(sublinhados meus)
Áudio e texto  AQUI

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Frei Fernando Ventura em entrevista à SIC, para reflexão (2/10/2010)


 
http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/Edicao+da+Noite/2010/10/frei-fernando-ventura-sobre-a-situacao-do-pais02-10-2010-01611.htm

Para quem prefira ler em vez de ouvir, aqui fica a transcrição do texto, no que se refere a educação, feita pelo blogue  De Rerum Natura

«[Há] uma tragédia a que vamos assistindo quase sem reacção (...) teria de se construir um projecto social diferente. Nós temos demasiado denunciadores e não temos anunciadores, e os anunciadores que temos mentem (...). O caminho tem de ser outro, de construção duma consciência social, duma consciência colectiva de co-responsabilidade social (...).
[Neste] país de um nível cultural baixíssimo (...) tem agora esta espécie mentira colectiva das Novas Oportunidades, são novas oportunidades de quê? De coisa nenhuma.
Vamos dar um canudo às pessoas mas não construir uma consciência cultural, não vamos construir uma consciência social, vamos continuar, e esta é outras das nossas desgraças nacionais, a viver para a cultura do penacho, das peneiras e dos títulos (…) e sabemos como, às vezes, os diplomas se conseguem e as confusões que estão por aí…
Se o Bordalo Pinheiro fosse vivo, neste momento, a fotografia que ele faria do país seria barraca de um bairro de lata com um submarino estacionado à porta. Nós somos o país do pessoal das barracas com antena parabólica no tecto, temos um país a cair de podre, mas temos um submarino lindíssimo para as visitas verem, mas se calhar nem sequer temos fundo para o pôr a navegar …
Este seria o momento, não de aparição de nenhum messias, mas de aparição de gente capaz de formar opinião, gente capaz de formar consciência, gente capaz de gritar que o rei vai nu por muito engravatado que esteja, gritar que é tempo de mudar e de mudar as estruturas podres que nos conduziram até aqui. E estamos outra vez a sacudir a água do capote (...).
O facilitismo começa desde o Jardim-de-infância. Nós estamos a assistir a uma débâcle nacional, estamos a montar uma escola, [onde] teoricamente e por ironia da estupidez, é possível entrar na universidade sem quase saber ler nem escrever.
Estamos a mentir às pessoas, não estamos a dar um futuro aos nossos jovens. Pior do que isso, estamos a construir uma sociedade montada na fachada (…). Estamos a formar ou a deformar as gerações que vão ser o futuro desta nossa terra, que estão a crescer sem bases, que estão a crescer sem valores, que estão a crescer dentro duma sociedade que está montada no ter ou não ter e que deixou, esqueceu, o ser pelo ser, e o ser pelo outro e o ser com o outro (...).
Reparem no que está a acontecer (…) vamos pagar uma factura extremamente pesada, e muito brevemente: nós estamos a criar gerações de monstros, nós estamos a criar gerações de jovens sem memória, estamos a criar gerações de gente sem história. E quando a memória e a história não se encontram, temos os cataclismos sociais.
As nossas crianças desde os três meses estão nos berçários, nos infantários, na escola porque têm que estar porque os pais precisam desesperadamente de ter dois ou três empregos para sobreviver (…) as nossas crianças não têm avós, não têm, sequer, pais (…).
É esta estrutura, por dentro, que precisa de mudar, e é a partir da base, a partir da educação.
Outra das facturas grandes que estamos a pagar (…) é a de um peneirismo nacional que entrou a seguir ao PREC e resolveu acabar com as Escolas Industriais e Comerciais (…). Não somos técnicos de coisa nenhuma. Veja um jovem que saia do liceu não sabe fazer rigorosamente nada. Temos a brincadeira dos Cursos Técnico Profissionais que são mais fachada do que outra coisa e temos uma população inteira de gente desqualificada. Nós somos os limpadores do mundo (…), continuamos a despejar os caixotes do lixo da Europa e da América do Norte. Não temos formação para mais (...). O destino é sermos comandados.»

domingo, 3 de outubro de 2010

Leitura integral de "Fanny Owen", dia 15, na Casa Fernando Pessoa


A 15 de Outubro, sexta-feira, dia em que Agustina Bessa-Luís completará 88 anos, terá início uma maratona para a leitura integral do livro "Fanny Owen", com início às 11:00 h, na Biblioteca da casa Fernando Pessoa, em Lisboa, aberta a todos os que desejarem participar.