quinta-feira, 2 de junho de 2011

Paulinho, afinal o que é que o menino quer?

Estava já a estranhar a manifestação de tanta ponderação, tanto juízo, tanto bom senso, em Paulo Portas, mas atribuí o facto a uma mais-valia da idade, não deixando, contudo, de manter aquela quota de desconfiança necessária, e que me é muito útil, porque me impede de seguir o canto de qualquer sereia que se atravesse no caminho. Por isso, hoje, quando afirmou que não estaria muito interessado em fazer parte de um futuro governo, mas, antes, em apoiá-lo com base num acordo parlamentar, contrariando o que tinha vindo a sugerir até agora, não me surpreendeu por completo. E isso trouxe-me à memória o verdadeiro Paulo Portas, aquele que tem muita dificuldade em partilhar, em delegar, poder.
Lembro-me que, qualquer presidência do CDS-PP, que não fosse a dele, tinha sempre o caminho armadilhado. Não admira, por isso, que ele seja o presidente de um partido que se mantém nessas funções há mais tempo. Ou seja, o partido é ele e ele é o partido. Ora, Portugal não é um partido, nem de um partido, nem sequer de um governo. Mas, e dadas as características da verdadeira personalidade de Paulo Portas que, de vez em quando, espreitam, talvez ele só se sentisse feliz e realizado se, num governo, fosse ministro de todos os ministérios e, por que não, e já agora, acumular tudo isso com o cargo de primeiro-ministro.
Eu, que tenho ouvido e lido tanta idiotice nesta campanha eleitoral, permito-me publicar este texto com a minha quota-parte da dita. E haja paciência...

9 comentários:

Manuela Freitas disse...

Sim, de facto tem que haver muita paciência, não me parece que haja outra alternativa! E a paciência é uma virtude que faz suportar com resignação tudo aquilo que nos revolta!
Beijo,
Manuela

Twoefes disse...

Por vezes acontece nós lermos ou ouvirmos algo que corresponde exactamente ao que pensamos. O texto que a Maria Josefa brilhantemente publica enquadra-se perfeitamente.
Já houve um período que acreditei em Paulo Portas. Porém, depois daquele episódio em que ele se demitiu quando era ministro e perdeu as eleições, para meses depois chegar em grande estilo, desalojar quem tinha reorganizado o partido e, instalar-se novamente como o grande líder.
Há quem se esqueça desses pormenores, mas para mim foi suficiente para perceber que Paulo Portas só quer uma única e exclusiva coisa: ir para o governo.
Com tanta idiotice nesta campanha eleitoral, haja alguém que diga umas verdades. Muito obrigado.

analima disse...

Apesar de, para o final da campanha, Paulo Portas ter, eventualmente, perdido alguma força confesso que me assusta que este CDS possa ter uma votação forte. Não percebo como se pode ir atrás de um discurso que se vê, de longe, que é feito a régua e esquadro para encaixar naquilo que muitos querem ouvir. Paulo Portas pode ser inteligente por saber gerir bem o que diz. Mas não é, certamente, por isso que devemos esquecer o que diz no seu texto, Josefa.

Maria Josefa Paias disse...

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Obrigada Manuela, "Twoefes" e Ana, pelos vossos comentários.

Já fui votar, e parece que faço parte daqueles 20% que o tinham feito até ao meio-dia, segundo a CNE, que ouvi agora na rádio. Só 20% de participação numas eleições tão importantes para o país? A continuar assim, creio, Ana, que nenhum partido vai ter uma votação "forte", nem o do Paulo Portas. Mas a tarde é longa e espero que o nível de abstenção seja inferior ao dos actos eleitorais anteriores.

Por isso, meus amigos, se ainda não foram votar, façam o favor de ir manifestar as vossas opções e aproveito para vos desejar um bom resto de Domingo.

vbm disse...

A Ana Gomes, hoje na rádio, perante a perspectiva de o Paulo Portas ser escolhido para ministro dos Negócios Estrangeiros, lembra todas as trafulhices que rodearam a compra dos submarinos à Alemanha com processos pendentes na justiça. Embora, o Portas seja hábil na persuação ele tem no seu cadastro procedimentos inadmissíveis,

Mar Arável disse...

Um dia só falaremos de coisas

sérias

Maria Josefa Paias disse...

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Obrigada Vasco e "Mar Arável", pelos vossos comentários.

Continuo também à espera que os processos a decorrer na Alemanha esclareçam alguma coisa, pois, por aqui, não tenho conhecimento de que o Ministério Público esteja a fazer alguma coisa. Mas se na conclusão dos que decorrem na Alemanha ficar provado que algum português, seja quem for, esteve implicado em algo ilegal/criminoso, então só há que pedir uma certidão do mesmo e iniciar o respectivo processo em Portugal. Enquanto isso não acontece, a minha atitude face a qualquer acto de qualquer cidadão, pobre ou rico, com ou sem poder político, é, como o Vasco sabe, sempre a mesma: inocente até prova em contrário. Seja o que for que diga a Ana Gomes ou o Papa.

E para que este e outros casos possam ser devidamente esclarecidos, muito ajudaria uma Justiça "desgovernamentalizada", o que sinceramente espero que venha a acontecer se o "memorando de entendimento" vier a ser cumprido com todo o rigor e, já agora, que Pedro Passos Coelho norteie a sua prática política pela transparência, como tantas vezes afirmou ser seu propósito. Caso contrário, tudo vai continuar na mesma, o que seria imperdoável.

A minha atitude de princípio é, também aqui, a de dar o benefício da dúvida e, depois, estar atenta aos actos e verificar os factos.

Um bom resto de semana!

vbm disse...

Concordo, Josefa.

Embora, mesmo desgovernamentalizada,
a Justiça persista vulnerável
a um "justicialismo" político...

A riqueza, o poder das armas,
sempre buscam não ser destronados
pela lei, mas justamente essa será
sempre a luta pela justiça.

Maria Josefa Paias disse...

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Vasco,

Essa também será a luta por uma verdadeira democracia. Do discurso de hoje, de António Barreto, de entre muitas outras coisas, retive: "As democracias não são derrotadas. Destroem-se a si próprias." E, a meu ver, isto acontece porque tanto no exercício da justiça como no da construção de uma democracia sólida, participam pessoas como todos nós, cada qual com os seus valores e os seus caracteres, e em que, por vezes, verificamos com tristeza que não tinham nem uma coisa nem outra, para mal da justiça e da democracia, ou seja, de todos nós. Por isso ouvimos a toda a hora a exigência de gente séria, honesta, honrada, responsável, que trabalhe em prol do bem comum, que preste contas, etc. etc., precisamente porque sabemos que são as qualidades individuais que podem fazer a diferença a todos os níveis do colectivo.