sábado, 2 de julho de 2011

Depois do poema, uma sinfonia

Desde o dia 28 de Junho, em que tive acesso ao programa do governo para a presente legislatura, que o meu humor mais se tem parecido com o de alguém que sofra de doença bipolar. É que, numa primeira leitura, cuidadosa mas faseada, porque o documento tem 129 páginas em ficheiro pdf (já o passei para Word e ficou com 62 páginas, embora sem a beleza do logotipo da Presidência do Conselho de Ministros), e, concluída essa leitura, a minha alma parecia rejubilar. E se tinha comparado o Memorando de Entendimento a um poema, este programa só poderia compará-lo a uma sinfonia, o que, em conjunto, até pode dar uma excelente Ópera, dependendo da execução, ou seja, do maestro. E até nem mostra vestígios do novo acordo ortográfico, o que me trouxe à memória a minha mensagem a Pedro Passos Coelho, de 30/06/2010, em que sugeria como primeira medida a revogação do malfadado acordo. Por outro lado, como algumas das reformas do Estado propostas pelo governo são ainda para estudar e executar a médio e longo prazo, o entusiasmo quebrou um pouco, porque elas são necessárias, mas para ontem. Mas como as medidas calendarizadas no Memorando de Entendimento têm prioridade sobre quaisquer outras, e não pode ser de outra maneira, pois do rigor no seu cumprimento depende a continuação da entrada de dinheiro da UE e do FMI que permitem ao Estado pagar os salários dos funcionários públicos, bem como as reformas e pensões de todos os que dependem do Estado, além dos juros e empréstimos que se vão vencendo ao longo dos três anos da sua vigência, recuperei o entusiasmo, já que muitas reformas importantes também estão assinaladas neste documento e, aqui, a música é outra, porque, ou se atingem os objectivos e não faltará o dinheiro, ou não se atingem e o país entra em incumprimento, que é um eufemismo para bancarrota. Por conseguinte, nada de salários, pensões ou reformas, muito menos subsídios de férias e de Natal. E porque esta situação ainda se pode vir a verificar se não puxarmos todos para o mesmo lado e/ou se o maestro se mostrar incompetente, até já consigo relativizar a penalização que muitos vão ter com a introdução do imposto extraordinário sobre uma parte do subsídio de Natal deste ano, uma vez que, só poderá ficar escandalizado quem não tiver uma perspectiva total da situação económica e financeira do país e prefira continuar a vender ilusões ou a viver na ignorância dos factos.

Outra coisa que me fez muito bem, foi seguir o debate do programa do governo na Assembleia da República, onde achei interessantíssimo o contraste entre a bancada do governo e as dos deputados, a primeira quase repleta de gente nova e bem-educada, as segundas com os rostos de sempre e, alguns, com os velhos hábitos da gritaria e das afirmações a roçarem o insulto, situação que corrigiram no segundo dia de debate, o que prova, mais uma vez, que também se pode educar através do exemplo, até deputados.

3 comentários:

Mar Arável disse...

... pelo menos um dia

que se anule o contratado
acordo ortográfico

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
De facto por muito que custe, todos têm que entender que o aperto é necessário e já não vale a pena culpar X, Y ou W...agora é ficar na expectativa que o maestro toque a sinfonia com a afinação necessária!...
Beijo,
Manuela

Eduardo Miguel Pereira disse...

Oxalá a orquestra e respectivo maestro possam, efectivamente, produzir música com a qualidade necessária para ir entretendo os ouvidos Europeus.

Tenho as minhas reservas, embora entenda que, pelo menos nesta fase inicial, deverão ser dadas condições para que o actual elenco governativo possa trabalhar com tranquilidade e possa colocar em prática as suas ideias (das quais, mais uma vez saliento, discordo).

Quanto à educação da bancada governamental, fico satisfeito por ter constatado precisamente o mesmo, de facto, a anterior bancada governamental ultrapassou todos os limites do razoável.
Mas atenção !
Alguém que ponha desde já algum cobro à forma de estar do actual Ministro das Finanças e à sua latente arrogancia e cinismo. Não antevejo nada de bom se a "figura" em causa continuar neste registo. Temo que possa fazer "desafinar" a orquestra.