segunda-feira, 22 de julho de 2013

A alucinação já passou



Mais uma vez, o povo suicidário (nós, segundo Unamuno) foi impedido de tal acto porque a “mãe” (a razão) guardou e trancou muito bem os venenos. Mas alguns suicidários estão furiosos porque só se sentem bem no mundo da fantasia, dada a sua incapacidade para lidarem com as dificuldades do mundo real. É certo que o Presidente da República (PR) atravessou uma fase de alucinação ao ver uma impossibilidade, e que era a concretização de um compromisso de médio prazo entre o PS, o PSD e o CDS-PP, de modo a salvaguardar a estabilidade no país e para garantir que os compromissos decorrentes da assistência financeira da troika seriam cumpridos, mesmo depois da data prevista para a conclusão do resgate, Junho de 2014. Mas o PR esqueceu-se, também, de que não vive num país civilizado, como aqueles a que se referiu na comunicação de 21 de Julho e que, salvo erro, se encontram no centro e norte da Europa. Aqui, no sul da Europa, creio que muitos políticos mais facilmente dariam a vida pelos partidos do que pelos seus países, embora não se coíbam de afirmar que são grandes patriotas.

Recuperado da alucinação e recuperado o bom-senso que a razão comanda, e tiradas as ilações da sua tentativa infeliz, o PR decidiu-se pelo interesse do país, neste momento difícil, e isso é o que lhe compete. De resto, espero que seja mais paciente do que eu para as gritarias e demagogias.

© Maria Paias

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Na parvónia, nada de novo



Mas o que é que o Presidente da República (PR) não entende da cassete do secretário-geral do Partido Socialista (PS) [se ouvir as cassetes do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista também serve, porque o conteúdo é parecido]? O homem não se cansa de dizer que quer eleições antecipadas já, pouco se importando com a situação catastrófica em que o país se encontra, nem com o facto de estarmos sob assistência financeira, cujo memorando o governo do seu partido negociou e assinou com a troika em 2011. E é uma pessoa com esta atitude que o PR quer agora trazer para um diálogo alargado com os outros partidos que também se comprometeram com o conteúdo do memorando, o Partido Social-Democrata (PSD) e o Centro Democrático e Social - Partido Popular (CDS-PP), que actualmente formam a coligação que governa o país, e que, pelo menos, tem cumprido esse mesmo memorando, ultrapassadas que estão sete avaliações, com os correspondentes ajustamentos ao memorando inicial. E não era esse o principal desiderato de qualquer governo? Ou, então, desconhecerá o PR a lógica interna dos partidos políticos que temos, e pensa que pode facilmente demover António José Seguro dos seus discursos demagógicos? Claro que não. A comunicação ao país do PR, a 10 de Julho, foi mais uma amostra da idiossincrasia do povo português, onde se denota o apego à pequenez, à vingançazinha, ao “cá se fazem, cá se pagam”, à mesquinhez.

Não me é tão desgastante lidar com os estados de alma de Paulo Portas, de que há muito conheço os sinais, nem com o seu carácter. Escrevi aqui, a 2 de Junho de 2011 – “Paulinho, afinal o que é que o menino quer?” e, já sei, que ele quer sempre tudo. Mas o que verdadeiramente me cansa são os que não sabem o que querem, ou aqueles para os quais “quanto pior, melhor”. Dos superiores interesses do país não sabem, nem querem saber.

© Maria Paias

sábado, 6 de julho de 2013

Escolas iPad na Holanda, uma reforma radical



Depois de ler este artigo fiquei a reflectir, tentando antever que tipo de cidadãos terá a Holanda daqui a dez ou quinze anos, se a maioria das crianças e jovens acederem a este modelo de “ensino”. Se hoje já se distanciam tanto dos problemas que afectam os seus parceiros da União Europeia mais dados a festas e romarias (de preferência, à borla), não será de admirar que, no futuro, e por este caminho, se sintam mais confortáveis a lidar com robôs do que com seres humanos. Mas como posso não estar a entender bem o alcance e as repercussões desta “reforma”, traduzi o artigo e publico-o aqui quase na totalidade, pois pode haver alguém que me indique o que tem de virtuoso.

«Muitas escolas usam iPads. Mas, e se toda a experiência educativa fosse oferecida via tablet? Isso é o que algumas novas escolas na Holanda estão a planear fazer. Não haverá o quadro negro nem programas escolares. Será o fim da sala de aula?

Pensem diferente. Isto foi mais do que um anúncio publicitário. Foi um manifesto e, com isso, o ex-presidente da Apple, Steve Jobs, revolucionou a indústria dos computadores, da música e o mundo dos telemóveis. O plano seguinte do visionário do digital era introduzir mudanças radicais nas escolas e nas editoras de manuais escolares, mas morreu de cancro antes de o conseguir executar.

Algumas das ideias que talvez tenham ocorrido a Jobs, estão agora a ser concretizadas na Holanda. Onze “Escolas Steve Jobs” abrirão em Agosto, estando Amesterdão entre as cidades que acolherão esse tipo de escola. Cerca de mil crianças, com idades entre os 4 e os 12 anos, irão a essas escolas, sem cadernos, livros ou mochilas. Cada uma delas, contudo, terá o seu próprio iPad. 

Não haverá quadros, giz ou salas de aula, salas de professores, aulas formais, planos de aulas, carteiras, canetas, professores a ensinar à frente da turma, horários, reuniões de pais com os professores, notas, toques para intervalo, nem dias de escola e de férias previamente estabelecidos. Se uma criança preferir jogar no seu iPad em vez de aprender, não haverá problema. E as crianças escolherão o que desejam aprender com base no que lhes desperta curiosidade.

As adaptações já estão a ser feitas em Breda, uma cidade perto de Roterdão, onde uma das escolas ficará instalada. Gertjan Kleinpaste, o reitor de 53 anos de idade, está consciente de que a sua escola iPad na Schorsmolenstraat poderá tornar-se, em breve, destino para invejosos – e também para indignados – reformistas da educação de todas as partes do mundo. (…)

O ano passado, ele era o reitor de uma escola que tinha três computadores, o que achava frustrante. “Já não estava a acompanhar os tempos”, diz ele. Em breve (13 de Agosto de 2013), Kleinpaste será um membro da era digital avançada. E está convencido de que “o que estão a fazer parecerá normalíssimo em 2020”.

As escolas Steve Jobs estarão abertas entre as 7:30 e as 18:30 de segunda a sexta-feira. As crianças entrarão e sairão quando quiserem, desde que estejam presentes no período principal, entre as 10:30 e as 15:00. As escolas encerrarão apenas pelo Natal e Ano Novo. As famílias das crianças poderão ir de férias quando lhes aprouver, e nenhuma criança terá de ficar preocupada se faltar às aulas por causa disso, uma vez que já não existirão aulas no sentido tradicional.