Dada a diversidade crescente das populações dos Estados Unidos, os riscos de sectarismo são maiores do que nunca. O que quer que nós já tenhamos sido, nós já não somos uma nação cristã. Pelo menos não somente cristã. Nós somos também uma nação judaica, uma nação muçulmana, uma nação budista, uma nação hindu e uma nação de não-crentes. E mesmo que tivéssemos apenas cristãos entre nós, se expulsássemos todos os não-cristãos dos E.U.A., qual o cristianismo que ensinaríamos nas escolas? Seria o de James Dobson ou o de Al Sharpton? Que passagens das Escrituras deveriam instruir as nossas políticas públicas? Deveríamos escolher o Levítico, que sugere que a escravidão é aceitável? E que comer frutos do mar é uma abominação? Ou poderíamos escolher o Deuterónimo que sugere que se apadreje o seu filho se ele se desviar da fé? Ou deveríamos apenas ficar com o Sermão da Montanha? Uma passagem que é tão radical que é de se duvidar que o nosso próprio Departamento de Defesa sobreviveria à sua aplicação. Então, antes de nos empolgarmos, vamos ler as nossas Bíblias agora. As pessoas não têm lido a Bíblia. O que me leva ao 2.º ponto: que a democracia exige que os motivados por uma religião traduzam as suas preocupações em valores universais, ao invés de específicos de uma dada religião. O que é que eu quero dizer com isto? Ela (a democracia) requer que as propostas delas (das religiões) sejam sujeitas a discussão e que passem pelo crivo da razão. Eu posso ser contrário ao aborto por razões religiosas, por exemplo, mas se eu pretendo aprovar uma lei proibindo a prática do aborto, eu não posso recorrer, simplesmente, aos ensinamentos da minha igreja ou invocar a vontade divina; eu tenho que explicar que o aborto viola algum princípio que é acessível a pessoas de todas as fés, incluindo aqueles sem fé alguma.
Agora isto vai ser difícil para alguns que acreditam na infalibilidade da Bíblia, como muitos evangélicos acreditam, mas, numa sociedade pluralista, não temos escolha. A política depende da nossa habilidade de nos persuadirmos mutuamente, de objectivos comuns com base numa realidade comum. Ela envolve negociação, a arte do possível. E, nalgum nível fundamental, a religião não permite negociar; é a arte do impossível. Se Deus falou, então espera-se que os seguidores vivam de acordo com os éditos de Deus, a despeito das consequências. Basear a vida de uma pessoa em compromissos tão inegociáveis pode ser sublime, mas basear as nossas decisões políticas em tais compromissos seria algo perigoso. E se duvidam disso, deixem-me dar um exemplo: todos conhecemos a história de Abraão e Isaac. A Abraão Deus ordenou que sacrificasse o seu único filho. Sem discutir ele leva Isaac até ao topo da montanha e amarra-o a um altar. Levanta a sua faca, prepara-se para agir como Deus ordenara. Agora, sabemos que tudo correu bem! Deus enviou um anjo para interceder mesmo no último minuto. Abraão passou no teste de devoção a Deus. Mas é justo dizer que, se qualquer um de nós, ao sair desta igreja, visse Abraão no telhado de um prédio levantando uma faca, iríamos, no mínimo, chamar a polícia, e esperaríamos que o Departamento de Apoio às Crianças e à Família tirasse a custódia de Isaac a Abraão. Nós faríamos isso porque não ouvimos o que Abraão ouve, nós não vemos o que Abraão vê. Então, o melhor que podemos fazer é agir de acordo com aquelas coisas que todos nós vemos e que todos nós ouvimos. A jurisprudência é bom senso básico. Então temos algum trabalho a fazer aqui, mas tenho esperança de que podemos transpor o hiato que existe e superar os preconceitos que todos nós, em maior ou menor grau, trazemos a este debate. E tenho fé que milhões de americanos crentes querem que isso aconteça. Não importa o quão religiosos eles possam ser ou não ser, as pessoas estão cansadas de ver a fé ser utilizada como arma de arremesso. Elas não querem que a fé seja usada para as apoucar ou para as dividir porque, afinal, não é dessa forma que elas vêem a fé nas suas próprias vidas.
Barack Obama
Para quem prefira ver e ouvir no vídeo:
Agora isto vai ser difícil para alguns que acreditam na infalibilidade da Bíblia, como muitos evangélicos acreditam, mas, numa sociedade pluralista, não temos escolha. A política depende da nossa habilidade de nos persuadirmos mutuamente, de objectivos comuns com base numa realidade comum. Ela envolve negociação, a arte do possível. E, nalgum nível fundamental, a religião não permite negociar; é a arte do impossível. Se Deus falou, então espera-se que os seguidores vivam de acordo com os éditos de Deus, a despeito das consequências. Basear a vida de uma pessoa em compromissos tão inegociáveis pode ser sublime, mas basear as nossas decisões políticas em tais compromissos seria algo perigoso. E se duvidam disso, deixem-me dar um exemplo: todos conhecemos a história de Abraão e Isaac. A Abraão Deus ordenou que sacrificasse o seu único filho. Sem discutir ele leva Isaac até ao topo da montanha e amarra-o a um altar. Levanta a sua faca, prepara-se para agir como Deus ordenara. Agora, sabemos que tudo correu bem! Deus enviou um anjo para interceder mesmo no último minuto. Abraão passou no teste de devoção a Deus. Mas é justo dizer que, se qualquer um de nós, ao sair desta igreja, visse Abraão no telhado de um prédio levantando uma faca, iríamos, no mínimo, chamar a polícia, e esperaríamos que o Departamento de Apoio às Crianças e à Família tirasse a custódia de Isaac a Abraão. Nós faríamos isso porque não ouvimos o que Abraão ouve, nós não vemos o que Abraão vê. Então, o melhor que podemos fazer é agir de acordo com aquelas coisas que todos nós vemos e que todos nós ouvimos. A jurisprudência é bom senso básico. Então temos algum trabalho a fazer aqui, mas tenho esperança de que podemos transpor o hiato que existe e superar os preconceitos que todos nós, em maior ou menor grau, trazemos a este debate. E tenho fé que milhões de americanos crentes querem que isso aconteça. Não importa o quão religiosos eles possam ser ou não ser, as pessoas estão cansadas de ver a fé ser utilizada como arma de arremesso. Elas não querem que a fé seja usada para as apoucar ou para as dividir porque, afinal, não é dessa forma que elas vêem a fé nas suas próprias vidas.
Barack Obama
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