quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Le Diable Rouge, de Antoine Rault (excerto)


Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault, levada à cena em 2008:

«• Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço…

• Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

• Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

• Mazarino: Criam-se outros.

• Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

• Mazarino: Sim, é impossível.

• Colbert: E então os ricos?

• Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

• Colbert: Então como havemos de fazer?

• Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.»

3 comentários:

Manuela Freitas disse...

Antes como hoje o sistema é igual! A classe média, foge da baixa, mas também se encosta à alta de uma forma servil...evidentemente que várias leituras podem ser feitas e algo que parece simples pode ser muito complexo!..
Beijo,
Manuela

Eduardo Miguel Pereira disse...

Está descoberta a "musa" inspiradora do "Diable Rose" que nos (des)governa !

Maria Josefa Paias disse...

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Ena! Agora com o comentário do Eduardo é que me apercebi que não venho a este blogue desde 26 de Janeiro... e não sei se vai ser hoje que tenho alguma coisa para dizer ou para reproduzir...

Obrigada Manuela e Eduardo. Esta peça reflecte o que temos vindo a assistir: os cidadãos que trabalham continuam a ser a tal fonte inesgotável para a tributação. Mas quando esta se mostra excessiva, incomportável mesmo, para alguns profissionais, então corre-se o risco de a "fonte" secar um dia e deixarmos de ter "classe média", o motor de qualquer sociedade.

Bom fim-de-semana e beijinhos.