Podemos considerar as crises como momentos importantes em qualquer aspecto das nossas vidas, pessoais e colectivas, porque nos dão a oportunidade de separar o trigo do joio. Uma crise não se manifesta nem se instala quando estamos atentos às implicações do que fazemos e do que dizemos, ou seja, quando cada um age à luz da ética e da deontologia.
Sem "krisis", no sentido grego do termo, não haveria julgamento, debate, comparação, escolha, decisão, desfecho, ruptura, e, portanto, a oportunidade de elaborar novas regras, mais rigorosas, em que assentem os nossos actos futuros. Por outras palavras, as crises obrigam-nos a fazer balanços do que fizemos de certo e de errado para, de forma esclarecida, evitarmos replicar esses mesmos erros e, idealmente, não cometermos outros.
Existe na língua portuguesa a expressão "passar pelo crivo" que encerra, precisamente, a ideia de avaliação de algo ou de alguém face a determinados valores com o objectivo de separar o certo do errado, o bom do mau, o competente do incompetente, o responsável do irresponsável. o tal trigo do joio.
Se, na presente crise, formos capazes de fazer um balanço profundo e exaustivo e dele saírem normas rigorosas e transparentes para os sectores que a provocaram, bem como a identificação de outras possíveis fragilidades, mais depressa desaparecerão a desconfiança e a perplexidade, a depressão e a angústia, caso contrário, voltaremos à aparência de normalidade, a uma normalidade podre.
Quando se bate no fundo, só há um caminho a percorrer: o da subida, mesmo aos solavancos. Permanecer no fundo não é opção nem se adequa ao significado do termo "crise" que não é mais do que "oportunidade para reflectir e romper com situações danosas".