domingo, 17 de janeiro de 2010

Terramotos e Filosofia

Esta última tragédia no Haiti trouxe-me à memória o modo como o terramoto de 1755 em Lisboa tinha influenciado algumas das conclusões do pensamento filosófico de Kant e de Voltaire. Este último escreveu um poema aquando do terramoto, onde combate a máxima de que "tudo está bem", considerando-a como um insulto às dores da vida, e contrapõe a esperança de um melhor futuro construído pelo homem (e lá se foi o optimismo).

Muda é a natureza que em vão interrogamos.
É preciso um Deus que fale ao género humano.
Só a ele cabe sua obra explicar,
Consolar o débil, o sábio iluminar...
Nossa esperança é que algum dia tudo esteja bem:
Mera ilusão é que hoje tudo esteja bem.
(Voltaire)

Se a Filosofia e a Ciência se construiram na tentativa de entender e explicar os fenómenos da Natureza (na Grécia continua a haver muitos tremores de terra), devido ao terror causado pelos mesmos (há similitude nas palavras terror e terra), e se o terror se consegue prever no horror, o horror, por seu lado, resulta de nada se poder prever na nossa relação com a Terra.

7 comentários:

Miguel Gomes Coelho disse...

Maria Josefa,
Dá-me gosto dizer que continuamos sintonizados.
Já estava a ficar esmorecido por ninguém, que eu tivesse lido, ter pegado no assunto por este prisma.
Num comentário ao seu blogue de consulta obrigatória diária, o Sustentabilidade é Acção, a um poste da Manuela - Ajudar o Haiti hoje -, aflorei o assunto mencionando Voltaire.Claro que não foi com a mesma profundidade cultural da minha amiga, mas, e apenas, como constatação da fragilidade humana face à Natureza.
É importante chamar a atenção para estes conceitos para que as pessoas tomem consciência, apesar de toda a técnica e de todos os avanços extraordinários da Ciência, da sua efectiva pequenês face íncomensuráveis forças que as rodeiam e que não podem, nem conseguem, controlar.
Um abraço.

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
Como sempre uma abordagem inteligente a um assunto, que já está a ser explorado até à exaustão e de uma forma desnecessária. De facto a ilação que se pode tirar é a da vulnerabilidade ao imprevísivel, ao qual nenhuma ciência pode dar resposta.
Uma boa semana.
Bj.
Manuela

Maria Josefa Paias disse...

Miguel, fiquei muito satisfeita por saber que a minha abordagem lhe tinha agradado e que tinha preenchido uma lacuna face a outras que leu.
Muito obrigada e um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Manuela, muito obrigada pelas suas palavras.
A meu ver, todas as abordagens são necessárias em momentos diferentes, umas porque são informativas, outras porque também dão pistas para o que é possível fazer em benefício dos afectados, como acontece nos blogues temáticos.
Como os meus blogues não são temáticos, tenho mais liberdade, tanto na escolha dos assuntos que me interessam como na forma de abordá-los. E fiquei muito satisfeita por esta forma lhe ter agradado.
Boa semana e um beijinho.

Anónimo disse...

Adorei a sua abordagem, Maria Josefa, o pior é a minha descrença no Homem com demasiado poder nas mãos...
Não gosto nada de ser do contra, mas depois de todos os acontecimentos do séc. XX, até onde serão fictícias as teorias da conspiração?
Uma contatação; o Homem com poder a mais é capaz das maiores crueldades ou atrocidades. Para bem de todos, devemos olhar em todas as perspectivas. Fiquei desconfiada de não ouvir falar de pequenas réplicas e pesquisei... não é normal que as não tenha havido, bem como não é normal haver apenas uma passados dias na escala 6.5!
Pode ser que o homem seja um louco, mas os estadunienses, especialmente os seus líderes estão dispostos a governar o Mundo.
56 anos de esforços nesse sentido e tanta ciência e tecnologia à mistura deixa muitas suspeitas para tudo o que está a acontecer no Mundo: Tanto estudaram que acabaram por conseguir intervir de forma directa...
A nossa relação com a Terra... diz bem, mas e os poderosos? Até onde irão?

http://oficinadobosque.blogspot.com/2010/01/nova-base-americana-no-haiti-nao-apenas.html

Quase que perco a Fé no humano. :(
Um beijinho grande para si, Maria Josefa.

Maria Josefa Paias disse...

Fada, querida Fada Helena, o que é que eu posso dizer em resposta ao seu comentário? Que a Terra estaria muito melhor sem a presença humana? Que os seres humanos passariam muito melhor sem a imprevisibilidade da Terra? Mas o desenrolar da nossa própria vida é imprevisível nesta Terra ou noutro planeta!
Recebo muito correio com as mais diversas teorias da conspiração acerca de tudo e de nada e, depois de ler, só têm um destino, o lixo.
Nós somos capazes do melhor e do pior, aliás devemos ser a única espécie que atenta contra si própria. Mas isso não me faz esmorecer nem deixo de reconhecer e realçar o que de bom vai sendo feito pela maioria em contraposição à maldade de uma minoria, que, não sei por quê, tem mais notoriedade, dando a falsa sensação de maioria. Temos que fazer um esforço para colocar as coisas em perspectiva, se não nem um dia de cada vez conseguiremos viver, tal é a depressão que se pode apoderar de nós.
Obrigada e um grande beijinho.

Anónimo disse...

Querida Maria Josefa,

Eu digo porque é que a bondade da maioria, é abafada pela maldade da minoria... penso que a maldade levada aos limites, tem consequências desastrosas... a bondade, nunca.
Como disse Luther King e com certa razão, o mal do Mundo não são os homens maus, mas o silêncio dos bons.
Afortunado silêncio da abnegação que nos faz viver melhor o dia a dia, mas condena populações ou povos inteiros, indirectamente.
Mas sim, tem razão, não temos poder para os derrotar e o melhor é viver o dia a dia com calma e sem depressões insustentáveis.
Como diz a vida é muito, muito imprevisível, disso não há dúvida.
Sim temos de realçar o bom que vai sendo feito e talvez denunciar também o mal. Mas quem sabe, poderei vir a ser um pouco mais optimista... para meu bem. :) Muitos me dizem louca e talvez o seja...
Anda mais de meio Mundo a tentar remediar o mal, provocado por essa minoria...Não esmoreçamos! :)

Vivo num dilema....

Um beijinho grande e obrigada pelo seu comentário, Querida Maria Josefa.
Um bom fim de semana e um beijinho.