sexta-feira, 14 de maio de 2010

José Sócrates opta por um penso-rápido para atacar os problemas do país

Graças ao "apertão" na reunião dos países da União Europeia e da União Monetária no passado fim-de-semana, José Sócrates apercebeu-se da realidade, não só da portuguesa mas da europeia e, finalmente, deixou o sorriso tolo e tentou esboçar mais algumas medidas necessárias para a redução do défice, tendo em vista também a diminuição dos encargos, ou taxas de juros, com a dívida externa da República Portuguesa, mas isto só acontecerá se os nossos credores virem alguma virtude nestas medidas adicionais ao PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento).
Lamentavelmente, o plano de austeridade apresentado ontem, não é senão um "penso-rápido", já que nada foi anunciado para se dar início à resolução dos problemas estruturais do país, mas apenas para a redução do défice e, em princípio, por um período de 18 meses, sem poupar sequer aqueles que já pouco ou nada têm. Ou seja, após estes 18 meses, o défice poderá estar controlado, mas a situação do país permanecerá precisamente igual à actual, sem competitividade, sem produzir quase nada, em suma, sem uma economia digna desse nome.
A 27 de Janeiro, quando veio a público que o défice de 2009 era, afinal, de 9,3%, corrigido posteriormente para 9,4%, e escrevi sobre isso aqui, previ um aumento de impostos no Verão  por ser a maneira mais fácil que os governos encontram para resolverem os seus próprios erros. E eles aí estão, a partir de 1 de Julho. A 25 de Março, também disse aqui, que o PEC, apesar de todos os elogios de que foi alvo por instâncias europeias e pelo FMI, não era o melhor para o país, precisamente porque não atacava os problemas estruturais nem continha cortes sérios nas despesas de funcionamento do Estado, para já não falar na despesa corrente, e aí está um plano de austeridade adicional que continua com a mesma falha. Agora até tenho receio de prever seja o que for, porque mais cedo ou mais tarde a realidade impõe-se a todos.
Quero, no entanto, regozijar-me com o facto de a União Europeia ter decidido ver previamente os orçamentos anuais dos Estados-membros, o que contribuirá, a meu ver, para se evitarem os chamados orçamentos eleitoralistas, desadequados, portanto, à realidade de cada país, e que possam pôr em risco a própria existência da zona euro e, em última análise, da União Europeia.

8 comentários:

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
Ponto de vista óptimo, o «penso-rápido» foi um achado!
Aprecio as suas previsões, que revelam uma grande atenção à situação!...
Beijinhos e bom fim-de-semana,
Manuela

Carlos Pires disse...

Sócrates sempre foi um mau PM. Mas numa altura como esta é particularmente desastroso. Há dias disse de manhã que Portugal é "campeão do crescimento" e à tarde que não lhe restava outra alternativa senão aumentar os impostos.

Paulo Lobato disse...

Joseja, para resolver os problemas estruturais era preciso que houvesse governo, e isso não temos desde que para isso foi eleito.
Eu já quase que não recordo o nome dos ministros.

um abraço e bom fim-de-semana,

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Manuela,

Obrigada por apreciar as minhas previsões, mas já viu que com esta taxa de acerto pode tornar-se-me incómodo no que concerne às coisas negativas. Ainda se estivéssemos no tempo do pensamento mítico-mágico, poderia bastar que eu pensasse e dissesse palavras positivas para as coisas positivas acontecerem :))

Como sabe, há pouco tempo escrevi sobre a hipótese de a economia crescer com pensamento positivo, disponibilizando-me eu a ir até à meditação transcendental, e deu no que deu a minha ironia :))

Um beijinho e bom fim-de-semana.

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Carlos,

José Sócrates poderia ter sido um excelente PM, porque tinha tudo o que era necessário para fazer as reformas necessárias. Tinha maioria absoluta e 4 anos inteirinhos. Mas não se preocupou com o país mas com o PS, e por isso é desastroso.

Hoje ouvi-o na rádio com a lenga-lenga do maior crescimento europeu no 1.º trimestre, como se não soubéssemos que, salvo erro, desde o ano 2000, que o crescimento do país tem estado estagnado em volta do 1% ao ano. E para completar o ridículo, o PM acrescentou que pedia um esforço patriótico a todos os portugueses para equilibrar as contas públicas e citou Camões com a frase: "Esta é a ditosa Pátria minha amada". Isto aconteceu hoje em Ponte da Barca. Só lhe digo que, como tenho um estômago sensível para estas coisas, ainda não me refiz de ouvir este verso sair da boca de José Sócrates, não só pela inadequação mas pelo ridículo.

Obrigada e um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

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Olá Paulo,

Precisamente! Não temos tido governos para o país mas para um partido e o resultado fala por si.

Um abraço e bom-fim-de-semana.

vbm disse...

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Realmente, também sinto uma certa vergonha de termos um governo assim, exibindo-se num rídiculo cabotinismo: «O país que mais cresceu na Europa!» «O primeiro a sair da crise!» «Vender todas as participações públicas para... diminuir 2% da dívida!!!»

De facto, com tamanha idiotia, é benéfico os orçamentos não serem aprovados pelo governo, porque de governo não têm nada!

Mas, também censuro a proposta oportunista do ministro dos negócios estrangeiros de estipular na Constituição a proibição de défices e dívida excessiva porque isso é ao que a União Europeia vai obrigar o país quer mude quer não mude a Constituição.

Se bem que... é uma forma de dizer que "sim senhor, estamos de acordo"; só que não chega estar de acordo, é necessário que o país, governo e governados, o consiga.

...

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Maria Josefa Paias disse...

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Olá vbm (Vasco),

Essa do Ministro dos Negócios Estrangeiros também a ouvi hoje, mas como já tinha a informação de que essa cláusula já faz parte da Constituição alemã há um ano e que Angela Merkel a vai propor no Conselho Europeu esta semana para os países da zona euro, vi também o oportunismo.

Também já ouvi hoje o líder do grupo parlamentar do PS, de que não me lembro agora o nome, que não concordava nem via a necessidade de as limitações ao défice e à dívida externa constarem da Constituição. E creio que o PSD também não concorda, mas não tenho a certeza porque não ouvi ninguém em directo do PSD, e eu já só acredito no que ouço em directo tal é a minha desconfiança também na comunicação social.

Mas estando na Constituição ou não, o certo é que basta uma norma da União Europeia nesse sentido e o assunto tem que ser levado a sério, ou os países sofrerão penalizações quer sejam do tipo "multas" ou através da redução de apoios comunitários.

Para ser sincera, o meu apoio incondicional à União Europeia, tem muito a ver com o facto de, em situações como estas, ou similares, sentir que, se há desgoverno nos países, haver quem puxe as orelhas aos prevaricadores e irresponsáveis e tenha a capacidade de exigir o cumprimento de normas básicas de boa governação. Se, depois, na política doméstica se culpa a UE por isto e por aquilo, eu não quero saber. Se as medidas são boas e sensatas, elas que venham, porque o que me interessa é o melhor para o país, já que sou apartidária, e os que nos têm governado têm sido incapazes de traçar rumos e objectivos, para nosso mal. E ainda veremos, oxalá que não, se estes países incumpridores do Sul, com o sistemático falseamento dos orçamentos até agora, não colocaram já em risco a existência da União, porque, se tal acontecer, eu deixarei pura e simplesmente de ter uma instituição em que posso depositar um mínimo de confiança e com poder suficiente para exigir o que nós, cidadãos, exigimos, mas não temos poder para modificar nada.

Obrigada e um abraço.