É significativo que, até pela via etimológica, ética e ecologia estão relacionadas. De facto, ética vem do grego êthos, que significa costumes e morada; ecologia provém de duas palavras gregas (oikos, casa, e lógos, razão, discurso) e significa tratado da casa, também em conexão com economia (oikos e nómos, lei), a lei da casa.
Logo pela etimologia se vê a importância decisiva do tema, pois é da nossa casa e do cuidado por ela que se trata. O debate tem-se tornado premente por causa da crise ecológica: alterações climáticas, contaminação do ar, do solo e da água, desertificação, extinção de espécies.
A responsabilidade ética é evidente, mas não é fácil responder a perguntas que se colocam neste domínio. Por exemplo: como se fundamentam os nossos deveres para com a natureza? Somos obrigados a cuidar dela por causa de nós ou porque ela tem valores objectivos?
O filósofo José Gómez-Heras sintetizou a vasta gama de soluções na seguinte tipologia de éticas medioambientais: argumentação antropocêntrica, argumentação religiosa, argumentação patocêntrica, argumentação biocêntrica, argumentação fisiocêntrica e argumentação metafísica.
Para o antropocentrismo, o Homem, como diz a palavra, ocupa o centro. Só ele é dotado de racionalidade, linguagem, autoconsciência, liberdade e, assim, apenas ele é sujeito moral, fim em si mesmo e fundamento de valores e normas morais. Enquanto pessoa, só tem deveres directos para consigo próprio e as outras pessoas. Para com os outros seres, os seus deveres são indirectos, na medida em que, na sua base, não estão direitos, mas relações de utilidade, posse, afecto.
No patocentrismo (do grego páthein, padecer), o fundamento de uma ética da compaixão é a capacidade de sentir dor e prazer. O princípio fundamental desta ética diz: "Não causes dor a ninguém; na medida das tuas possibilidades, ajuda a todos." O patocentrismo acaba por colocar os seres humanos e os outros animais no mesmo plano moral.
Se o patocentrismo põe o reino vegetal fora do campo moral, o biocentrismo (do grego bíos, vida) torna eticamente relevantes os organismos e as plantas. O seu critério de moralidade integra o mundo dos seres vivos, sem privilégios entre as espécies. Figura eminente do biocentrismo foi Albert Schweitzer, filósofo, teólogo, médico, músico, missionário fundador do hospital de Lambarene, no Gabão, Prémio Nobel da Paz. Para ele, a vida é algo de sagrado, despertando veneração e respeito. O seu princípio fundamental é: "Eu sou vida que quer viver no meio de vida que quer viver."
Frente ao antropocentrismo, afirma-se o fisiocentrismo (do grego physis, natureza), que, contra a concepção moderna objectivante e físico-matemática da natureza, a afirma como organismo vivo e subjectividade autocriadora, no quadro de uma cosmovisão de cariz panteizante e reivindicando, assim, uma dimensão ética para toda a natureza. Contra o dualismo homem-natureza, vê o Homem integrado na natureza, numa unidade de co-pertença, que exige o paradigma da colaboração, contra o paradigma da objectivação e da exploração pelo Homem.
Face a estas concepções, é necessário superar um duplo radicalismo: o antropocentrismo que tudo objectiva e o naturalismo panteizante. Para isso, impõe-se estar atento ao lugar do Homem na evolução: se, por um lado, ele não é desvinculável da natureza, por outro, não é idêntico à natureza, pois tem características que o tornam qualitativamente diferente: é natureza humana.
Neste contexto, a distinção entre agente moral, status reservado ao Homem enquanto ser racional e livre, e paciente moral, qualidade atribuível a todos os seres naturais, proposta por Gómez-Heras e outros, ajuda a iluminar o problema. Ao Homem compete a construção de um mundo moral, pelo conhecimento, reflexão e decisão. E faz-se justiça à natureza, "reconhecendo os valores de que é portadora" e assumindo-os como fonte de respeito e obrigação moral.
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