«Jornalistas e fontes de informação têm interesses específicos. A fonte noticiosa, através de informação, contra-informação, lóbis e fugas de informação, pretende "conduzir" o jornalista a um objectivo definido - publicitar as suas realizações. Os jornalistas, que investigam, seleccionam e produzem informação têm critérios pessoais e sociais, com rotinas de trabalho e normas profissionais que os regem, para validar ou não a publicitação dos acontecimentos organizados pelas fontes de informação.» (...)
«As fontes de menores recursos apostam na intriga, desvendam as rivalidades de organizações maiores e adequam-se às necessidades dos jornalistas (rapidez nas respostas, enquadramentos noticiosos). Com frequência, as fontes rivais saem do interior de organizações e, através de fugas de informação ou balões de ensaio, boicotam os projectos das organizações a que pertencem. Graças a redes de contactos informais com jornalistas, há uma significativa porosidade nas estruturas das organizações, o que as vulnerabiliza. Uma multiplicidade de interesses - que, no extremo, leva a que qualquer pessoa possa ser fonte de informação - serve os objectivos dos jornalistas, que procuram novas notícias sem cessar.» (...)
«Muitas delas, que trabalham e fornecem informação empacotada, destinada a consumo jornalístico, mostram uma componente proactiva indispensável para a sua colocação nas notícias. A estratégia seguida pela fonte é fazer chegar aos jornalistas informação julgada útil para a sua organização. Apesar de as regras habituais indicarem que as fontes devem prestar informação correcta, muitas vezes trabalham com dados falsos, produzem fugas de informação e lançam "balões de ensaio", na tentativa de antecipar resultados ou previsões e estudar reacções de adversários ou de um grupo social completo.» (...)
«O jornalista aceita melhor as fontes oficiais, categoria fundamental nas notícias. Estas nem sempre dão a resposta pretendida, de imediato. Primeiro, porque há que ponderar a altura certa para divulgar a resposta. Segundo, porque não se tem a certeza total da eficácia da informação e se espera que outros agentes se pronunciem sobre o assunto. Terceiro, porque à fonte oficial nem todos os jornalistas ou meios noticiosos interessam. A escolha destes é feita com critério, tendo em conta o prestígio do jornalista ou do jornal.
À fonte oficial interessa que corra tudo bem; por isso, preocupa-se com a escolha do meio noticioso e do jornalista, fornece a informação de acordo com os seus objectivos, faz um acompanhamento da acção, está atenta ao que se passa em volta. Com frequência, os jornalistas operam mais no domínio da obtenção de declarações e opiniões de fontes poderosas e interessadas na sua divulgação e menos na busca de factos novos e correlação com outros factos (Wemans, 1999:66). Outras vezes, ficam-se pelas expressões "tentámos apurar sem êxito", "a fonte não quis revelar", "a fonte preferiu não adiantar", o que encobre dificuldades dos jornalistas em obter a informação necessária» (...)
«Por seu lado, as fontes não oficiais (associações, empresas de menor dimensão, grupos cívicos, organizações não-governamentais) lutam pela divulgação dos seus acontecimentos.»(...)
«As empresas poderosas têm maior capacidade de controlar os seus contactos com o exterior, ao criarem barreiras formais e informais que inibem qualquer representante de falar abertamente dos problemas internos da organização. Além disso, as organizações de estruturas mais frágeis - como sindicatos, associações ambientais, de saúde ou de apoio social -, de estruturas abertas e com níveis hierárquicos fracos revelam mais facilmente as dissensões e os problemas internos.»
in A fonte não quis revelar, pp. 32, 35/6, 75, 77/8/9
11 comentários:
Hoje andei à procura desse livro na Fnac e não o encontrei...
Abraço
Eu consultei o catálogo da minha Biblioteca na Internet e como havia 2 exemplares disponíveis, nem me coloquei a questão de o adquirir e requisitei-o por mail. Caso contrário, quando acabasse de o ler ficaria ao seu dispor.
Abraço.
Pois este livro também me fica na ideia. Obrigada pela interessante sugestão.
Parece ser cada vez mais útil e necessário compreender como é que todo este universo das notícias, e da sua criação, funciona. Aceitar que as coisas sejam mesmo assim, tão tortuosas e premeditadas,a mim parece-me difícil. Na verdade, quando penso nessa voracidade noticiosa, para fazer face à constante novidade a que nos habituámos...bom, a sociedade civil não pode abstrair-se destas questões.
Uma área que ainda vai dar muito para falar, concerteza...
Bom fim-de-semana :)
A intenção é que conta e por isso fico-lhe grato :-)
Julgo que não deve estar esgotado e por isso hei-de acabar por encontrá-lo. Quero mesmo ler.
Já agora, viu o que o Carlos Narciso escreveu sobre este assunto? Está aqui:
http://blogda-se.blogspot.com/2009/09/os-que-assessoram-os-assessores.html
Na mouche...
Abraço
Bom fim-de-semana também, Ana Paula! Mas como parece que estamos com insónias, pode também ir ao "Escrita em dia" que o contador antropomórfico refere, e que já li, e veja como o segundo parágrafo que eu transcrevi do livro do Dr. Rogério Santos contém o mesmo sobre as manobras, de forma mais sucinta, e este estudo foi publicado em 2006!
Abraço.
contador antropomórfico, tinha acabado de ler o texto do Carlos Narciso e ía fechar "a loja" quando vi que tinha mais 2 comentários. E foi este caso dos assessores que me levou a publicar o texto porque me pareceu mais esclarecedor do que qualquer coisa que eu pudesse dizer, já que foi feito por alguém dedicado não só ao ensino mas também à investigação na área da comunicação social.
Muito obrigada.
Abraço.
Boa noite, Maria Josefa :)
Tenho andado com bastante trabalho, pelo que ainda não pude seguir a sua interessante sugestão e referência do Contador Antropomórfico. Mas tenciono fazê-lo em breve com todo o interesse. A temática é relevante.
Mais uma vez, muito obrigada.
Um abraço.
Ana Paula, no dia seguinte também fui deixar um comentário no blogue do Carlos Narciso por ter achado interessante eu ter publicado estes excertos 24 horas antes de ele fazer todas aquelas apreciações sobre as relações dos assessores com os jornalistas e até o que se passa dentro das próprias empresas de comunicação social, uma vez que foi jornalista da SIC, pelo que sugiro que leia também os comentários porque algumas respostas do Carlos Narciso também são esclarecedoras.
Boa noite :)
Um abraço.
Este livro "A Fonte Não Quis Revelar" possuí referencial bibliográfico? Preciso com urgência.
Vinícius Ribeiro, já contactei o autor do livro e, logo que me dê a resposta à sua pergunta, transmitir-lha-ei. Como leu atrás, o livro foi requisitado a uma biblioteca, e não o tenho fisicamente.
Até breve!
Vinicius Ribeiro, aqui vai a resposta que recebi do professor Rogério Santos. Espero que responda ao que pretende.
Um excelente fim-de-semana!
«Cara Maria Josefa. Obrigado pela mensagem. Fiquei com uma dúvida relativamente ao conceito "referencial bibliográfico". Se se refere a bibliografia colocada no final do livro, sim. Se se refere a críticas e comentários ao livro, não sei as que existem. O livro cobre a parte empírica da minha tese de doutoramento e foi escrito entre 2000 e 2001, logo as referências bibliográficas atendem à actualidade desse período. Cumprimentos.»
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