A RFM começou hoje a tratar os ouvintes por "tu", por influência da sua página no Facebook. Como é a estação de rádio que tenho quase sempre sintonizada para viajar, qual não foi o meu espanto quando ouvi, de manhã: "já tens bilhetes para ires ver o Prince no Super Bock Super Rock?". Eu que, como se sabe, sou uma apreciadora da canção Purple Rain, e que, depois deste "tu-cá-tu-lá", eles resolvem pôr no ar, não sei explicar muito bem o que senti inicialmente com este "tutear" porque esta canção tem o dom de afastar qualquer outra interferência no meu cérebro. Assim, continuei sintonizada na RFM durante a tarde, e, na realidade, é-me tão estranho que me tratem por tu na rádio como no Facebook. Mas como isto não tem nada a ver com boa ou má educação, tem certamente a ver com a minha própria maneira de ser e, portanto, será uma questão de habituação, logo, de tempo, para chegar lá também. Vamos ver se não será já tarde demais para mim depois de todos os "vossemecê", "você", "vós", "V. Ex.ªs", e quejandos.
8 comentários:
Tem toda a razão. O você parece que deixou de existir; é tudo artificialmente íntimo... De facto o Purple Rain, afasta muita coisa... Tudo de bom.
Só a Josefa para me fazer sorrir por esse mundo virtual :)))
Esta "coisa" do tu-cá-tu-lá", a gente estranha, mas depois entranha :)))
E depois, embora eu também me custe a habituar (deve ser da idade), a verdade é que nesse aspecto sempre "louvei" a língua inglesa. E outra coisa: do que me apercebi na Inglaterra (há uns bons anos), nas empresas não há cá Drs, Engs ou Arqs. é tudo "you" e eu achei óptimo!
Beijinhos
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Olá José Marinho,
O "artificialmente íntimo", mais um sinal dos tempos.
E eu acrescentaria, porque a experienciei recentemente, "a noção de amizade" que o mundo virtual, afinal, desvirtuou, e onde parece tudo ser permitido só porque as pessoas não se conhecem pessoalmente, ou, mesmo conhecendo-se pessoalmente, o usam para se agredirem mutuamente e não se coíbem de partilhar com o mundo esses desentendimentos pessoais, como se isso pudesse interessar a mais alguém a não ser às pessoas envolvidas. Estranho mundo este, ou melhor, pessoas estranhas, estas!
Um abraço e bom feriado:))
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Olá Manuela,
Espero continuar a fazê-la sorrir hoje, pois já tenho mais horas de experiência do "tutear" na RFM :))
Mas antes, e por ter referido a língua inglesa lembrei-me de uma canção de um grupo português com uma vocalista, de que não me lembro agora o nome, que, numa canção, diz qualquer coisa como "a língua inglesa fica sempre bem", porque não é dada a segundas interpretações, enquanto que a nossa, riquíssima em vocábulos e tempos verbais como é, deixa-nos muitas vezes enredados no palavreado e, no caso vertente, no modo como nos tratamos.
Voltando à RFM, reparei que no espaço em que é a Joana Cruz a apresentadora quase não se dá pelo tratamento por "tu" porque ela fala pouco e quando diz que vamos ter meia-hora de música seguida, temos mesmo! Já no espaço do Paulo Fragoso, que é o que me está a fazer companhia agora, como ele é mais extrovertido e falador, por vezes mesmo exuberante, nota-se muito mais. E de vez em quando ele procura o seu tom de voz mais sexy e pergunta, em "sotto vocce": "Não te importas que te trate por tu, pois não?". Ora, ao dar-me esta "música" mais as outras grandes músicas, como é que eu me vou importar? :)) Nem quero que me trate de outro modo senão por "tu":)) Este tipo de manipulação, e porque tenho consciência dela, aceito-a, porque me diverte.
Beijinho e bom feriado :))
Até há uns anos atrás já fui mais "tuteador", mas depois, há quem veja nesse "tutear" uma dose de confiança que por vezes nós não pretendemos dar, e a coisa tende a correr mal. Daí que, tenha optado cada vez mais pelo você.
Quem não deve gostar nada disto, lá em "cima" onde ele estiver, é o meu Avô, que dizia sempre :
- As pessoas ou me conhecem e me tratam por tu, ou não me conhecem e me tratam por Sr. Agora por você é que não, que isso é como se tratam os moços de estrebaria !
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Olá Eduardo,
Foi por me lembrar dos meus pais, porque os avós não conheci bem, que me lembrei de anotar também o "vossemecê" (proveniente de vossa mercê), uma vez que o sucedâneo "você" era considerado por eles como um tratamento igual ao "tu", logo, de falta de respeito para com os mais velhos. Eu resolvi essa questão nunca tratando os meus pais e as pessoas da sua geração por você, mas iniciando a frase por "a mãe...", ou "o pai...", e "a senhora ..." ou "o senhor...", e isso foi sempre tão natural para mim que nunca senti qualquer desconforto.
E como foi assim, o "tutear" actual entre pessoas que não se conhecem é que me tem provocado algum desconforto, de tal modo que até mereceu este meu texto, com uma abordagem ligeira e bem-disposta :))
Um abraço e bom fim-de-semana, embora engessado :))
Josefa, eu adoro ouvir rádio. Por isso, gostei muito do seu post.
Mas... gostei especialmente da sua referência a esse tal "sotto vocce" :))))
Um abraço.
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Olá Ana Paula,
Obrigada pelo seu comentário aqui nesta minha espécie de "questão existencial" :))))))))
Beijinho.
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