quarta-feira, 30 de junho de 2010

Esboço de mensagem a Pedro Passos Coelho


*Pedro,

Eu que continuo maravilhada com o modo como trata a língua portuguesa, através da qual veicula com clareza o seu pensamento, que também me tem agradado, senti nestas últimas semanas que essa clareza foi toldada por alguns matizes de cinzento que é necessário remover. Por exemplo, exige, e muito bem, que o PS apresente por escrito e em detalhe as suas iniciativas políticas em que necessite da colaboração do PSD para a sua aprovação, porque, todos sabemos, ou devíamos saber, que não se deve assinar qualquer contrato ou acordo sem o ler previamente, incluindo as letras miudinhas. Ora sendo o Pedro adepto das versões escritas dos compromissos, pactos, contratos, acordos, como queiramos chamar-lhes, ainda não vi a versão escrita do que acordou com José Sócrates para a colaboração na concretização das medidas dos PEC I e II, que fez para ajudar o país e não o governo, como já referiu várias vezes. Até pode estar no sítio do PSD na Internet mas, de facto, ainda não o vi em lado nenhum. Aquele senhor que está em Belém, muito seco em todos os aspectos, já disse que podíamos encontrar a VERDADE dele no sítio da Presidência da República. Depois de ter dito que o país estava numa situação insustentável, como se não o soubéssemos já, partiu do princípio de que todos os cidadãos desta “insustentabilidade” têm acesso à Internet, que sabem o que fazer com ela, que sabem ler e escrever e que até compreendem o que lêem e ouvem. Por isso, faça o favor de publicar e de publicitar o que quer que acordou com José Sócrates, através dos diversos modos de comunicação disponíveis para que um maior número de cidadãos tenha acesso, e para que possa demonstrar a sua coerência quanto a compromissos que devem ser escritos – o PSD exige ao PS, o PS exige ao PSD, e eu exijo a ambos (ía escrever nós, mas lembrei-me que só falo por mim).
Já agora, e para que não diga que quem critica nem sempre apresenta alternativas, nem ideias novas e refrescantes, aqui ficam as minhas:
1 – Quando formar governo (como vê não digo “se” mas “quando”), escolha todos os seus ministros de entre as pessoas mais competentes e honestas da sociedade, e não do seu Partido. E os ministros deverão fazer o mesmo na constituição dos seus gabinetes. (Isto demonstra o meu apreço por si e não tanto pelo seu Partido, ou por qualquer Partido de uma maneira geral. E também sei que, se procedesse assim, rapidamente seria corrido do PSD, o que só demonstraria que o que é melhor em si mesmo, ou melhor para o país, não interessa nada às “clientelas” partidárias).
2 – Como primeiro acto do seu governo, e é uma daquelas coisas que até não me importo que rasgue, – a revogação do Acordo Ortográfico. (Mesmo que o não faça, não me importarei de ser a única pessoa sobre a Terra a escrever segundo a norma actual).
3 – Alteração da Lei Eleitoral, e da Constituição se para tal for necessário, de modo a podermos ter, à semelhança dos Ingleses, campanha eleitoral, debates, eleições e tomada de posse do novo governo num período de três semanas. (Um autêntico sonho!)
4 – Que cumpra tudo o que já disse sobre os Institutos Públicos e as empresas do Estado, a duplicação de serviços e funções, ou seja, inteligência e racionalidade máxima na aplicação do dinheiro dos contribuintes.
Se por esta altura se questionar: mas quem é esta tonta? – direi apenas que esta tonta nunca teve filiação partidária e nunca faltou a qualquer acto eleitoral ou referendo, por outras palavras, sou o tipo de pessoa aberta às ideias de qualquer partido democrático que tenha o engenho e a arte de me convencer apelando ao meu intelecto e não ao estômago, e que coloque o interesse do país em primeiro lugar. Uma eleitora exigente, portanto.

* (como é um homem da era Facebook, não estranhará este tratamento)

terça-feira, 29 de junho de 2010

A empresa Cisco junta-se ao projecto português "smart city"

Na próxima segunda-feira, dia 5 de Julho, representantes das empresas Cisco e Living PlanIT apresentarão o conteúdo de uma carta de intenções para uma parceria estratégica, que assinaram, com o objectivo de criarem em Paredes, próximo da cidade do Porto, um centro de inovação tecnológica na área das telecomunicações. Este projecto tem vinte e cinco fases de desenvolvimento, estando previsto o arranque da primeira fase ainda este ano, com um investimento de 550 milhões de euros e concebido para criar 3000 postos de trabalho nas áreas tecnológicas, e cujo investimento total poderá rondar os dez mil milhões de euros.
Que venham em boa hora e, se possível, com a questão do financiamento já resolvida pois, por aqui e no resto da Europa, os bancos estão sem liquidez, infelizmente, e não queremos que a carta de intenções que assinaram fique por isso mesmo.

Fonte: FT

sábado, 19 de junho de 2010

Sobre José Saramago, a idiotia não vem de Espanha

Cansada de ouvir frases-feitas, de circunstância, de muitos que, muito possivelmente, não leram um único livro de José Saramago, e de ler um ou outro texto de pseudo-intelectuais que nada acrescentam que, a meu ver, tenha interesse, foi com verdadeiro deleite que li o que escreveram José Luis Rodríguez Zapatero, Primeiro Ministro espanhol, do PSOE (Partido Socialista Obrero Español) e Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP) espanhol, de momento na oposição, textos publicados hoje na secção de Cultura do jornal El País e que se podem ler aqui no original:

JOSÉ LUIS RODRÍGUEZ ZAPATERO

EL PAÍS  -  Cultura - 19-06-2010
Tu abuelo, nos contaste, intuyendo el final de su existencia en la Tierra, fue diciendo adiós a los amigos, a su familia, a la naturaleza, porque quería estar lúcido y presente cuando la muerte llegara. Por eso, se abrazaba a los árboles que guardaban las páginas escritas de su vida.
Me llega la triste noticia de tu muerte y te evoco, el verano pasado, en la biblioteca de tu casa de Lanzarote. Vuelves a ser el perfecto anfitrión, el hombre cortés, inteligente, generoso, al que le gusta compartir la amistad. Me honra ser tu invitado. Pilar, tu compañera, tu cómplice, parece señalar en silencio a todos y cada uno de tus personajes en ti: al Ricardo Reis que se compadece de la soledad de los poetas y ayuda a no temer la memoria, a los inventores de artefactos angélicos que quieren enseñar a los seres humanos a volar "aunque les cueste la vida", a aquel alfarero que libra a los esclavos de una nueva caverna porque se niega a aceptar ciertas cegueras que imponen desigualdad y dolor.
Tú, que has sido también todos los nombres, no terminas aquí. 2010 es ya, para siempre, el año de la muerte de José Saramago, pero tus libros forman un maravilloso bosque de dignidad. Y yo me abrazo al árbol para mantener tu memoria.
MARIANO RAJOY

EL PAÍS  -  Cultura - 19-06-2010
Con José Saramago desaparece un novelista enérgico, comprometido con la fuerza de la palabra. Sus libros son testimonio de ello. Intensos, arrebatados, desvelan la precisión visionaria de quien escribía desde dentro, invocando una pasión íntima que surgía de la imaginación, pero que no renunciaba a tener los pies en la tierra, palpando sus contradicciones y sus injusticias. Sé que no compartíamos el mismo horizonte político. Él creía en unos ideales que no son los míos, pero eso no impide que aprecie en su obra la convicción compartida de que la dignidad del hombre, más allá de las diferencias, siempre cuenta. Sus personajes mostraban esta forma de pensar. En ellos latía un aliento pesimista que dejaba abierta una puerta a la esperanza, a la espera de que el lector sacara sus propias conclusiones acerca de su conducta: de lo que hacía con su vida y de cómo lo hacía. El año de la muerte de Ricardo Reis, Memorial del convento o Ensayo sobre la ceguera son ejemplos de este proceder literario. Saramago fue uno de los grandes escritores del siglo XX y un gran amigo de España. El reconocimiento internacional que mereció su obra fue, también, un homenaje esperado al portugués: una lengua portentosa, bella y fértil desde sus orígenes; una lengua próxima, íntima, hermana, como el pueblo que la habla y que siente a través de ella.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago (1922-2010)

A notícia da morte de José Saramago é daquelas que, desde há um ano, quando se agravou o seu estado de saúde, me pareceu não iria apanhar-me desprevenida. Mas não aconteceu assim, e estou desolada e incapaz de explicitar um mínimo de pensamento articulado e coerente. Também não vou escolher qualquer passagem de um dos seus livros para transcrever aqui, vou apenas recolher-me.
À família, amigos e leitores expresso o meu profundo pesar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Grécia seduz investidores chineses

Apesar da crise que atravessa, a Grécia continua a ser um país atractivo para a China, que acaba de assinar treze contratos com empresas gregas, principalmente no sector marítimo.
O Vice-Primeiro Ministro chinês Zhang Dejiang chegou a Atenas a 15 de Junho para uma visita oficial de dois dias, acompanhado por uma delegação de empresários, no decorrer da qual foram assinados treze contratos no valor de várias centenas de milhões de euros, nos sectores aeroportuários, da construção naval e da logística.
Os dois países são complementares no sector marítimo. Enquanto a Grécia possui cerca de 3.000 navios mercantes, a China tem uma grande necessidade de fazer transportar os seus produtos para os países ocidentais. E dos treze contratos assinados, sete respeitam ao sector marítimo. A empresa Cosco, o gigante chinês especialista em transporte marítimo e na construção de barcos, aprovou os acordos com o armadores gregos para o comando de vários barcos de mercadorias, o fretamento de barcos e a criação de uma empresa comum.
O porto do Pireu, perto de Atenas, interessa muito aos chineses e o grupo de construção BCEGI vai construir nas imediações desse porto um centro hoteleiro em associação com a sociedade grega Helios Plaza.
O interesse dos chineses pelo porto do Pireu, um dos portos mais importantes do Mediterrâneo, já data de 2008, quando o grupo chinês de transportes Cosco desembolsou 3,4 mil milhões de dólares para obter uma concessão para a gestão dos contentores no porto, e com o objectivo de aumentar e de modernizar o Pireu. A capacidade de acolhimento actual, que se situa nos 1,6 milhões, deverá duplicar com as alterações previstas.
Por outro lado, a empresa chinesa Huawei Technologies assinou um acordo de cooperação com o grupo de Telecom grego OTE. Estes acordos poderão trazer um balão de oxigénio a um país em grave crise financeira e, embora constrangido a aplicar um plano drástico de austeridade, Atenas decidiu relançar a sua economia.
Aliás, outros países estão interessados em investir na Grécia. O Qatar já investiu numa fábrica de gás natural na zona oeste do país, e anunciou a intenção de prosseguir com os seus investimentos. E a Turquia, o inimigo jurado, pode vir a ser também um parceiro económico da Grécia, tendo o Primeiro Ministro turco assinado já uma vintena de acordos nos sectores do turismo, da energia e do ambiente.
Tudo isto fez-me lembrar o texto que publiquei há dias sobre a apreensão dos EUA com a desvalorização da moeda chinesa e do euro e que agora, com todos estes investimentos que os chineses estão a fazer na Grécia, imagino que estejam já a roer as unhas. E para nós, europeus, a China acaba por ser incontornável.
O que tudo isto também me mostra é que não há quem queira investir em Portugal, com a consequente criação de postos de trabalho, e embora a agência Moody tenha baixado ontem ainda mais a notação da Grécia e nos tenha deixado em paz.

Fonte: RFI 
Foto de George Papandreou e Zhang Dejiang por Reuters.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Discurso de um soldado americano sobre a guerra no Iraque, para reflexão

Nota: como não possuo a identificação deste soldado, não me foi possível confirmar a informação de que teria aparecido morto dois dias depois destas declarações e cuja autópsia revelou ter sido devido a ataque cardíaco.
Adenda: é com grande satisfação que hoje, 1 de Outubro de 2010, posso afirmar que este soldado, de nome Michael Prysner, está vivo e de saúde e, pesquisando, encontrei uma organização que fundou, com o nome March Forward  

Curso de Saúde e Voz em Comunicação Social na UCP

·        Curso de Saúde e Voz em Comunicação Social - 17 e 18 de Junho
  • Objectivos
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Todas as informações sobre o curso AQUI

Telef: 21 721 41 47
saude@ics.lisboa.ucp.pt
www.ics.lisboa.ucp.pt

sábado, 12 de junho de 2010

EUA apreensivos com a desvalorização do yuan chinês e do euro

Na passada quinta-feira, 10 de Junho, o Secretário americano do Tesouro, Timothy Geithner, afirmou que iriam sancionar a China por esta manipular as taxas de câmbio da sua moeda «com vista a obter uma vantagem injusta no comércio internacional».
Na Comissão de Finanças do Senado americano, Timothy Geithner endureceu a sua posição, perante o aumento do volume comercial da China, calculado em 1,8 mil milhões em Abril e que atingiu os 19,5 mil milhões de dólares em Maio. Segundo Geithner, a China tira proveito de um yuan excessivamente fraco e «manipula o valor da sua moeda» com vista a aumentar as exportações. «As distorsões provocadas pela taxa de câmbio chinesa ultrapassa em muito as fronteiras chinesas e são um obstáculo ao reequilíbrio mundial de que necessitamos», insurgiu-se ele.
Mas a China não tem qualquer intenção de revalorizar a sua moeda. «Não é do interesse de ninguém, nem da China, nem dos EUA, nem de outros países, ver grandes subidas do yuan ou grandes descidas do dólar», declarou em Maio último o Vice-Ministro chinês do Comércio, Zhong Shan, num discurso na Câmara de Comércio americana. Mesmo assim, Timothy Geithner irá pressionar Pequim na próxima cimeira do G 20 para que o país altere a taxa de câmbio do yuan.
Por outro lado, a desvalorização do euro em 6% face ao dólar, está também a contribuir para que as trocas comerciais dos EUA com o resto do mundo tenham vindo a diminuir. Segundo os números publicados no dia 10 de Junho pelo Departamento do Comércio em Washington, a zona euro, primeira parceira comercial dos EUA, é responsável pela queda em 30% das trocas comerciais dos EUA, em Abril. Não só desceu o valor das importações de bens americanos a partir da zona euro em 3,1%, como também o das exportações para a zona euro em 5,7%, o que constitui um duplo golpe para a economia americana, uma vez que a China e a zona euro são os seus principais parceiros comerciais.
Então, em que é que isto nos afecta? Aparentemente em nada, se o euro não desvalorizar muito mais, pois, por enquanto, até tem beneficiado as nossas exportações e é disso que necessitamos mais do que nunca.
É claro que a China, ao incomodar deste modo os EUA, que até prevêem sanções pelas práticas referidas (não estou a ver como se impede um país soberano de desvalorizar a sua moeda), é também um concorrente muito forte da União Europeia e tem a possibilidade de desvalorizar a sua moeda sempre que o entenda, contrariamente ao que se passa com o euro, cuja desvalorização se deve a diversos factores bem conhecidos de todos nós.
 
Fonte: RFI
Foto de Timothy Geithner, por Reuters/ Jonathan Ernst

segunda-feira, 7 de junho de 2010

RFM - "tu-cá-tu-lá" a partir de hoje

A RFM começou hoje a tratar os ouvintes por "tu", por influência da sua página no Facebook. Como é a estação de rádio que tenho quase sempre sintonizada para viajar, qual não foi o meu espanto quando ouvi, de manhã: "já tens bilhetes para ires ver o Prince no Super Bock Super Rock?". Eu que, como se sabe, sou uma apreciadora da canção Purple Rain, e que, depois deste "tu-cá-tu-lá", eles resolvem pôr no ar, não sei explicar muito bem o que senti inicialmente com este "tutear" porque esta canção tem o dom de afastar qualquer outra interferência no meu cérebro. Assim, continuei sintonizada na RFM durante a tarde, e, na realidade, é-me tão estranho que me tratem por tu na rádio como no Facebook. Mas como isto não tem nada a ver com boa ou má educação, tem certamente a ver com a minha própria maneira de ser e, portanto, será uma questão de habituação, logo, de tempo, para chegar lá também. Vamos ver se não será já tarde demais para mim depois de todos os "vossemecê", "você", "vós", "V. Ex.ªs", e quejandos.

domingo, 6 de junho de 2010

Referendo na Eslovénia para resolver conflito territorial com a Croácia

Em direito marítimo, são as fronteiras litorais de um Estado que determinam o traçado das suas águas territoriais, calculado segundo uma linha meridiana a partir da costa. Com os seus 37 quilómetros de litoral a noroeste, sobre o Adriático, a Eslovénia não dispõe senão de um pequeno quadrado de soberania marítima, encravado entre as águas territoriais italianas a norte e croatas a sul.
Mas, e mais importante, a Eslovénia não dispõe de qualquer acesso a águas internacionais, principalmente a sul. E é esse corredor de acesso que a Eslovénia reclama, propondo-se para tanto a modificar as suas fronteiras terrestres em algumas centenas de metros, para que, por projecção, o traçado das suas águas territoriais atinja as águas internacionais.
Não tendo os dois Estados (Eslovénia e Croácia), em 18 anos, conseguido chegar a um acordo sobre este assunto, porque a Croácia sempre se mostrou reticente a qualquer concessão territorial, mas querendo aderir à União Europeia em 2012, de que a Eslovénia já faz parte e que tem usado essa questão para retardar a entrada da Croácia, os Primeiros-Ministros esloveno e croata resolveram, em Setembro último, aceitar em delegar a resolução desse conflito à arbitragem da União Europeia, resolução que está hoje a ser referendada na Eslovénia, ou seja, os eslovenos vão dizer se aceitam ou não que uma autoridade internacional tenha a última palavra na resolução deste conflito territorial com a Croácia.
O acesso a águas internacionais continua a ser, sem dúvida, de importância capital para qualquer Estado, já a adesão à União Europeia, nos dias que correm, poderá ter deixado de ser tão apelativo para quem, eventualmente, esteja a pensar apresentar relatórios e contas falseados sobre a situação económica e financeira do respectivo país. Mas como a Croácia quer tanto a sua adesão, certamente que terá todos os requisitos necessários e prontos a serem escrutinados à lupa pela Comissão que faz a avaliação, e, assim, este conflito territorial com a Eslovénia até poderá chegar a bom porto.

Fonte: RFI
Foto por AFP/ H. Polan