«O governo do mundo começa em nós mesmos. Não são os sinceros que governam o mundo, mas também não são os insinceros. São os que fabricam em si uma sinceridade real por meios artificiais e automáticos; essa sinceridade constitui a sua força, e é ela que irradia para a sinceridade menos falsa dos outros. Saber iludir-se bem é a primeira qualidade do estadista. Só aos poetas e aos filósofos compete a visão prática do mundo, porque só a esses é dado não ter ilusões. Ver claro é não agir.»
in Livro do Desassossego (275), Fernando Pessoa/Bernardo Soares
6 comentários:
É um pensamento que só pode surgir de um criador de heterónimos.
Ninguém nos conhece melhor que nós próprios, pelo que o viver com os outros obrigará à construção/assumpção de máscaras.
Pessoa, a começar por ele, era um fingidor consigo próprio.
Alguém, em verdade descarnada, conseguiria governar/viver com os outros ?
Vendo bem, apesar do pessimismo, Pessoa era capaz de ter razão.
Cara Josefa
É impressionante a lucidez e actualidade de Fernando Pessoa!
Beijos
T.Mike, em relação ao pessimismo o próprio Pessoa dá a resposta nesta mesma obra dizendo: «Eu não sou pessimista, sou triste.» (texto 127)
Um abraço.
Manuela, neste caso como no de outros escritores eu não sou imparcial, porque pura e simplesmente não os consigo largar.
Beijinho.
"... Sofro e sonho. ...............
..................................
Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos."
Sim, talvez pessimista seja demasiado.
Um desgostoso,um sombrio, certamente .
PS:Quero agradecer-lhe o ter-me obrigado a pegar outra vez no livro.
:-)
Também um abraço.
Obrigada T.Mike, por ter agradecido o reencontro com Pessoa, porque me deu um sinal que isso lhe agradou. Caso contrário, já eu estaria para aqui a dizer para os meus botões: Mas o que é que eu fui fazer? Estava o T.Mike tranquilo e agora com Pessoa para cá, Pessoa para lá, fui possivelmente atormentá-lo, ou, para usar o nome do livro, desassossegá-lo, e para isso já bastava eu...!
Muito obrigada.
Abraço.
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