segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A. Schopenhauer - 222.º aniversário de nascimento


Para assinalar o dia 22 de Fevereiro de 1788, deixo apenas alguns excertos do livro Dialéctica Erística, de Arthur Schopenhauer, Editora Campo das Letras, e, como sempre, as minhas escolhas para reflexão não são inocentes.


«"Dizemos que é correcto o que parece ser para a maioria" (Aristóteles, Ética a Nicómaco, X, 2, 117 2b 36). Efectivamente não existe nenhuma opinião, por absurda que seja, de que os homens não aceitem como própria se, na hora de os convencer, se argumentar que ela é universalmente aceite. O exemplo é de igual modo eficaz nos seus pensamentos e nos seus actos. São como ovelhas que seguem o carneiro aonde quer que ele vá: é-lhes mais fácil morrer do que pensar.» (p. 75)


«Resumindo: muito poucos são capazes de pensar; no entanto, todos querem ter opiniões; e, assim sendo, não será mais fácil ficar com as dos outros do que criá-las eles próprios? Perante estes factos, que valor poderá ter agora a verdade de cem milhões de pessoas?» (p.76)


«Intellectus luminis sicci non est recipit infusionem a voluntate et affectibus (o intelecto não é uma luz que arda sem azeite, precisa de ser alimentado pela vontade e pelas paixões - Bacon, Novum Organon I, 49).» (p.82)


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Assim, eu também não posso candidatar-me às presidenciais!

Na passada quinta-feira, no RCP, ouvi uma declaração de Alfredo Barroso, que foi chefe da Casa Civil de Mário Soares quando este desempenhou as funções de Presidente da República, em que dizia que Fernando Nobre nunca poderia ser Presidente da República porque não tinha qualquer experiência política, mas apenas médica e humanitária, acrescentando mesmo que tanto ele como Manuel Alegre eram apenas uns populistas de esquerda.
Se a Constituição Portuguesa diz que qualquer cidadão português, maior de 35 anos sem cadastro criminal, pode concorrer às eleições presidenciais e ser eleito, e sendo esta uma eleição pessoal e não estando a maioria dos portugueses filiada em partidos políticos, o que é que "essa experiência política" fornece que seja um bem superior ao carácter, honestidade, à dedicação aos outros, à cidadania activa de qualquer pessoa que deseje candidatar-se?

Nas fotos, da direita para a esquerda: Fernando Nobre e Alfredo Barroso.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Reunião dos Ministros das Finanças da U.E. sobre situação da Grécia

Os Ministros das Finanças da União Europeia reúnem-se hoje e amanhã em Bruxelas para avaliarem a situação da Grécia, cujo défice começa já a pesar no valor do euro.
Segundo uma sondagem recente, mais de 50% dos gregos estão conscientes da necessidade de uma cura de austeridade e de que os seus governos demoraram muito tempo a tomar as medidas necessárias. Dizem que estão prontos para os sacrifícios que lhes forem pedidos, excepto num ponto: opõem-se a que a idade da reforma passe dos 61 para os 63 anos (em muitos países da União a idade da reforma é aos 65 anos e há quem esteja a ponderar fixá-la nos 67, não só para controlo das despesas mas, também, devido ao aumento médio da esperança de vida).
Assim sendo, não me parece que os gregos estejam, de facto, conscientes, como diz a sondagem, da necessidade de austeridade, ou então disseram o oposto do que na realidade pensam.
Pela primeira vez, a União Europeia vai fazer um controlo apertado, de dois em dois ou de três em três meses, à aplicação do plano grego de redução do défice e das despesas.
De momento não vão ser anunciadas medidas de apoio directo à Grécia, por duas razões: para não levar os especuladores a aproveitá-las em benefício próprio e para que o governo grego não creia que pode abrandar os seus esforços no controlo das despesas do Estado face às manifestações de descontentamento que quase todos os dias saem à rua, bem como às greves gerais ou parciais que também já se verificaram e que, tudo leva a crer, não irão parar.

(Na foto: Georges Papaconstantinou, Ministro grego das Finanças)

Fonte: RFI

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Fernando Pessoa - A doença da disciplina


«Das feições de alma que caracterizam o povo português, a mais irritante é, sem dúvida, o seu excesso de disciplina. Somos o povo disciplinado por excelência. Levamos a disciplina social àquele ponto de excesso em que coisa nenhuma, por boa que seja – e eu não creio que a disciplina seja boa -, por força que há-de ser prejudicial.

Tão regrada, regular e organizada é a vida social portuguesa que mais parece que somos um exército do que uma nação de gente com existências individuais. Nunca o português tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo, pensa sempre em grupo. Está sempre à espera dos outros para tudo. E quando, por um milagre de desnacionalização temporária, pratica a traição à Pátria de ter um gesto, um pensamento, ou um sentimento independente, a sua audácia nunca é completa, porque não tira os olhos dos outros, nem a sua atenção da sua crítica.

Parecemo-nos muito com os alemães. Como eles, agimos sempre em grupo, e cada um do grupo porque os outros agem.

Por isso aqui, como na Alemanha, nunca é possível determinar responsabilidades; elas são sempre da sexta pessoa num caso onde só agiram cinco. Como os alemães, nós esperamos sempre pela voz de comando. Como eles, sofremos da doença da Autoridade – acatar criaturas que ninguém sabe porque são acatadas, citar nomes que nenhuma valorização objectiva autentica como citáveis, seguir chefes que nenhum gesto de competência nomeou para as responsabilidades da acção. Como os alemães, nós compensamos a nossa rígida disciplina fundamental por uma indisciplina superficial, de crianças que brincam com a vida. Refilamos só de palavras. Dizemos mal só às escondidas. E somos invejosos, grosseiros e bárbaros, de nosso verdadeiro feitio, porque tais são as qualidades de toda a criatura que a disciplina moeu, em quem a individualidade se atrofiou.

Diferimos dos alemães, é certo, em certos pontos evidentes das realizações da vida. Mas a diferença é apenas aparente. Eles elevaram a disciplina social, temperamentalmente neles com em nós, a um sistema de estado e de governo; ao passo que nós, mais rigidamente disciplinados e coerentes, nunca infligimos a nossa rude disciplina social, especializando-a para um estado ou uma administração. Deixamo-la coerentemente entregue ao próprio vulto integral da sociedade. De aí a nossa decadência!

Somos incapazes de revolta e de agitação. Quando fizemos uma “revolução” foi para implantar uma coisa igual ao que já estava. Manchamos essa revolução com a brandura com que tratamos os vencidos. E não nos resultou uma guerra civil, que nos despertasse; não nos resultou uma anarquia, uma perturbação das consciências. Ficamos miserandamente os mesmos disciplinados que éramos. Foi um gesto infantil, de superfície e fingimento.

Portugal precisa dum indisciplinador. Todos os indisciplinadores que temos tido, ou que temos querido ter, nos têm falhado. Como não acontecer assim, se é da nossa raça que eles saem? As poucas figuras que de vez em quando têm surgido na nossa vida política com aproveitáveis qualidades de perturbadores fracassam logo, traem logo a sua missão. Qual é a primeira coisa que fazem? Organizam um partido… Caem na disciplina por uma fatalidade ancestral.

Trabalhemos ao menos – nós, os novos – por perturbar as almas, por desorientar os espíritos. Cultivemos, em nós próprios, a desintegração mental como uma flor de preço. Construamos uma anarquia portuguesa. Escrupulizemos no doentio e no dissolvente. E a nossa missão, a par de ser a mais civilizada e a mais moderna, será também a mais moral e a mais patriótica.»


Fernando Pessoa / Ideias Políticas


(sublinhados meus)


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Projecto Limpar Portugal hoje no programa Biosfera da RTP2



O Projecto "Limpar Portugal" será abordado hoje na RTP2, no programa Biosfera, com início às 19.00 h.
Como se aproxima o dia 20 de Março, o dia da grande limpeza, e se já se inscreveu neste projecto, mantenha-se a par das iniciativas do seu grupo concelhio, caso contrário, ainda está a tempo de se inscrever e de colaborar através deste endereço: http://limparportugal.ning.com/.







domingo, 7 de fevereiro de 2010

Tremido um acordo entre a U.E. e os E.U.A. sobre dados bancários

Segundo Rui Tavares, deputado europeu, membro da Comissão das Liberdades Civis e de Justiça do Parlamento Europeu, o Parlamento Europeu poderá, muito provavelmente, bloquear na próxima semana um acordo entre a União Europeia e os Estados Unidos da América sobre a transferência de dados bancários.
A polémica traduz-se no acesso às informações da reserva inter-bancária Swift, situada na Bélgica. Esta sociedade gere os fluxos financeiros de cerca de 8000 estabelecimentos bancários. Washington deseja, por seu lado, continuar a aceder a esses dados com o objectivo de lutar contra o terrorismo.

Fonte: RFI

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Já terminou a semana da parvoíce?

«(…) O momento parece propício não apenas para um exame de consciência nacional que raras vezes tivemos ocasião de fazer, mas para um reajustamento, tanto quanto possível realista, do nosso ser real à visão do nosso ser ideal. Nenhum povo, e mais a mais um povo de tantos séculos de vida comum e tão prodigioso destino, pode viver sem uma imagem ideal de si mesmo. Mas nós temos vivido sobretudo em função de uma imagem irrealista, o que não é a mesma coisa. Sempre, no nosso horizonte de portugueses, se perfilou como solução desesperada para obstáculos inexpugnáveis a fuga para céus mais propícios. Chegou a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá-longe a solução que como no apólogo célebre está enterrada no nosso exíguo quintal.

Não estamos sós no mundo, nunca o estivemos. As nossas possibilidades económicas são modestas, como modesto é o nosso lugar no concerto dos povos. Mas ninguém pode viver por nós a dificuldade e o esforço de uma promoção colectiva do máximo daquilo que adentro dessa modéstia somos capazes. Essa promoção passa por uma conversão cultural de fundo susceptível de nos dotar de um olhar crítico sobre o que somos e fazemos, sem por isso destruir a confiança nas nossas naturais capacidades de criação autonomizada, dialogante como tem sido sempre, mas não sob a forma de uma adaptação mimética, oportunista, das criações alheias e da sua vigência de luxo entre nós enquanto os problemas de base do País não recebem um começo de solução. (…)

(…) Em compensação refinámos no gosto da glosa jurídica, da astúcia formal, da conciliação do inconciliável quando o mais empírico interesse pessoal ou social está em jogo, sem jamais pôr em questão o sistema que sob conteúdos diferentes em cada época, mesmo das que aparecem sob a exigência da libertação e ruptura com a mentira social e intelectual institucionalizadas, se reconstitui e de novo se fecha sobre si mesmo. (…)»


de O Labirinto da Saudade, Psicanálise Mítica do Destino Português, Eduardo Lourenço, Círculo de Leitores, 1988, excertos das pp 45, 46, 48.