http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/Edicao+da+Noite/2010/10/frei-fernando-ventura-sobre-a-situacao-do-pais02-10-2010-01611.htm
Para quem prefira ler em vez de ouvir, aqui fica a transcrição do texto, no que se refere a educação, feita pelo blogue De Rerum Natura
«[Há] uma tragédia a que vamos assistindo quase sem reacção (...) teria de se construir um projecto social diferente. Nós temos demasiado denunciadores e não temos anunciadores, e os anunciadores que temos mentem (...). O caminho tem de ser outro, de construção duma consciência social, duma consciência colectiva de co-responsabilidade social (...).
[Neste] país de um nível cultural baixíssimo (...) tem agora esta espécie mentira colectiva das Novas Oportunidades, são novas oportunidades de quê? De coisa nenhuma.
Vamos dar um canudo às pessoas mas não construir uma consciência cultural, não vamos construir uma consciência social, vamos continuar, e esta é outras das nossas desgraças nacionais, a viver para a cultura do penacho, das peneiras e dos títulos (…) e sabemos como, às vezes, os diplomas se conseguem e as confusões que estão por aí…
Se o Bordalo Pinheiro fosse vivo, neste momento, a fotografia que ele faria do país seria barraca de um bairro de lata com um submarino estacionado à porta. Nós somos o país do pessoal das barracas com antena parabólica no tecto, temos um país a cair de podre, mas temos um submarino lindíssimo para as visitas verem, mas se calhar nem sequer temos fundo para o pôr a navegar …
Este seria o momento, não de aparição de nenhum messias, mas de aparição de gente capaz de formar opinião, gente capaz de formar consciência, gente capaz de gritar que o rei vai nu por muito engravatado que esteja, gritar que é tempo de mudar e de mudar as estruturas podres que nos conduziram até aqui. E estamos outra vez a sacudir a água do capote (...).
O facilitismo começa desde o Jardim-de-infância. Nós estamos a assistir a uma débâcle nacional, estamos a montar uma escola, [onde] teoricamente e por ironia da estupidez, é possível entrar na universidade sem quase saber ler nem escrever.
Estamos a mentir às pessoas, não estamos a dar um futuro aos nossos jovens. Pior do que isso, estamos a construir uma sociedade montada na fachada (…). Estamos a formar ou a deformar as gerações que vão ser o futuro desta nossa terra, que estão a crescer sem bases, que estão a crescer sem valores, que estão a crescer dentro duma sociedade que está montada no ter ou não ter e que deixou, esqueceu, o ser pelo ser, e o ser pelo outro e o ser com o outro (...).
Reparem no que está a acontecer (…) vamos pagar uma factura extremamente pesada, e muito brevemente: nós estamos a criar gerações de monstros, nós estamos a criar gerações de jovens sem memória, estamos a criar gerações de gente sem história. E quando a memória e a história não se encontram, temos os cataclismos sociais.
As nossas crianças desde os três meses estão nos berçários, nos infantários, na escola porque têm que estar porque os pais precisam desesperadamente de ter dois ou três empregos para sobreviver (…) as nossas crianças não têm avós, não têm, sequer, pais (…).
É esta estrutura, por dentro, que precisa de mudar, e é a partir da base, a partir da educação.
Outra das facturas grandes que estamos a pagar (…) é a de um peneirismo nacional que entrou a seguir ao PREC e resolveu acabar com as Escolas Industriais e Comerciais (…). Não somos técnicos de coisa nenhuma. Veja um jovem que saia do liceu não sabe fazer rigorosamente nada. Temos a brincadeira dos Cursos Técnico Profissionais que são mais fachada do que outra coisa e temos uma população inteira de gente desqualificada. Nós somos os limpadores do mundo (…), continuamos a despejar os caixotes do lixo da Europa e da América do Norte. Não temos formação para mais (...). O destino é sermos comandados.»
[Neste] país de um nível cultural baixíssimo (...) tem agora esta espécie mentira colectiva das Novas Oportunidades, são novas oportunidades de quê? De coisa nenhuma.
Vamos dar um canudo às pessoas mas não construir uma consciência cultural, não vamos construir uma consciência social, vamos continuar, e esta é outras das nossas desgraças nacionais, a viver para a cultura do penacho, das peneiras e dos títulos (…) e sabemos como, às vezes, os diplomas se conseguem e as confusões que estão por aí…
Se o Bordalo Pinheiro fosse vivo, neste momento, a fotografia que ele faria do país seria barraca de um bairro de lata com um submarino estacionado à porta. Nós somos o país do pessoal das barracas com antena parabólica no tecto, temos um país a cair de podre, mas temos um submarino lindíssimo para as visitas verem, mas se calhar nem sequer temos fundo para o pôr a navegar …
Este seria o momento, não de aparição de nenhum messias, mas de aparição de gente capaz de formar opinião, gente capaz de formar consciência, gente capaz de gritar que o rei vai nu por muito engravatado que esteja, gritar que é tempo de mudar e de mudar as estruturas podres que nos conduziram até aqui. E estamos outra vez a sacudir a água do capote (...).
O facilitismo começa desde o Jardim-de-infância. Nós estamos a assistir a uma débâcle nacional, estamos a montar uma escola, [onde] teoricamente e por ironia da estupidez, é possível entrar na universidade sem quase saber ler nem escrever.
Estamos a mentir às pessoas, não estamos a dar um futuro aos nossos jovens. Pior do que isso, estamos a construir uma sociedade montada na fachada (…). Estamos a formar ou a deformar as gerações que vão ser o futuro desta nossa terra, que estão a crescer sem bases, que estão a crescer sem valores, que estão a crescer dentro duma sociedade que está montada no ter ou não ter e que deixou, esqueceu, o ser pelo ser, e o ser pelo outro e o ser com o outro (...).
Reparem no que está a acontecer (…) vamos pagar uma factura extremamente pesada, e muito brevemente: nós estamos a criar gerações de monstros, nós estamos a criar gerações de jovens sem memória, estamos a criar gerações de gente sem história. E quando a memória e a história não se encontram, temos os cataclismos sociais.
As nossas crianças desde os três meses estão nos berçários, nos infantários, na escola porque têm que estar porque os pais precisam desesperadamente de ter dois ou três empregos para sobreviver (…) as nossas crianças não têm avós, não têm, sequer, pais (…).
É esta estrutura, por dentro, que precisa de mudar, e é a partir da base, a partir da educação.
Outra das facturas grandes que estamos a pagar (…) é a de um peneirismo nacional que entrou a seguir ao PREC e resolveu acabar com as Escolas Industriais e Comerciais (…). Não somos técnicos de coisa nenhuma. Veja um jovem que saia do liceu não sabe fazer rigorosamente nada. Temos a brincadeira dos Cursos Técnico Profissionais que são mais fachada do que outra coisa e temos uma população inteira de gente desqualificada. Nós somos os limpadores do mundo (…), continuamos a despejar os caixotes do lixo da Europa e da América do Norte. Não temos formação para mais (...). O destino é sermos comandados.»
6 comentários:
Olá Josefa
Parece que nos lembramos da mesma coisa quase ao mesmo tempo :)
Que seja amplamente divulgada esta entrevista, e que os portugueses reflictam e mudem de rumo.
Beijos
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Olá Manuela,
Eu tinha publicado só o vídeo ao meio da tarde de ontem no Facebook, que, por sua vez, veio de uma partilha através do meu Prof. Mendo Henriques, como pode verificar, e mais tarde pareceu-me importante que viesse para o blogue já que as considerações sobre as nossas idiossincrasias vêm muito na linha de excertos de livros que publiquei, como "As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares", de Antero de Quental, etc.
Beijinho :))
Olá Maria Josefa
Uma intervenção soberba mesmo!
Já partilhei isto no meu weblog. (http://bit.ly/9wR9yD) Espero que sirva de alguma coisa.
As palavras deste senhor são certeiras e servem para muitas situações até da nossa vida pessoal.
Simplesmente bebi cada palavra dita por este senhor!
Fantástico mesmo.
"Somos o pessoal das barracas com a antena parabólica no tecto"
Nem mais... Um país que vive de aparências...
"Perdemos tempo a discutir jogos de poder"
Esta serve para aqueles senhores que vão para as tv's debitar coisas e mais coisas com a mania que são os sábios da coisa...Enfim.
Muito bom.
Cumprimentos
OLá Josefa,
Agradeço-lhe ter-me proporcionado o conhecimento desta entrevista, já que nesse dia estava ausente de casa.
Que dizer? Que ando muito cansada disto tudo, mas que ao ouvir esta entrevista e pela sintonia de ideias me senti animada. Animada no aspecto em que há pessoas que vão de encontro ao que penso, porque há momentos em que caio na redundância de pensar que está tudo louco!
Bj,
Manuela
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Olá João (Guakjas),
Ainda bem que coloquei o vídeo também aqui, porque assim pudemos partilhar e apreender estas palavras sensatas, que ditas por nós não teriam o mesmo impacto nem o faríamos com a mesma serenidade e a mesma clareza nos argumentos.
Não sei se sou masoquista, mas hoje dei-me ao trabalho e paciência de ouvir em directo os discursos do centenário da República. E, claro, mais uma vez as palavras não corresponderam à actuação dos intervenientes. Quando as duas coisas se conjugarem, talvez tenhamos políticos confiáveis e responsáveis de que fala Frei Fernando Ventura.
Obrigada e abraço.
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Olá Manuela Freitas,
Realmente por vezes parece que anda tudo louco, mas, para me tranquilizar a mim mesma, convenço-me de que a maioria até é lúcida e sensata, contando com todos aqueles que há centenas de anos fazem um diagnóstico ao país (dos governantes e governados) muito parecido ao de Frei Ventura, só que mais facilmente os tais "idiotas" têm acesso aos meios de comunicação social (e agora também têm blogues) e, assim, ao ouvi-los a toda a hora, ficamos abatidos ao pensar que eles reflectem o retrato da maioria. Mas se não reflectem, têm uma capacidade e meios de persuasão que até assusta. E é mais isso que receio. A capacidade de manipulação do pensamento das pessoas que não tenham opiniões firmes e fundamentadas sobre os assuntos.
Obrigada e beijinho :))
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