terça-feira, 19 de outubro de 2010

E esta?... Claro que é pura coincidência!

A partir do dia 18/09/2010, em que divulguei a entrevista de António de Sousa à Antena 1, (que me trouxe à memória o que eu já tinha escrito sobre a decisão da União Europeia querer analisar previamente os Orçamentos dos Estados-membros), e onde ele afirmou que, “se o Orçamento não for aceite em termos europeus será desastroso de qualquer forma”, não mais levei a sério a palração diária sobre este assunto, uma vez que não passa de puro exercício de retórica na tentativa de ninguém perder a face (PS e PSD) e, por isso, ouço-os, mas para exercitar a minha paciência. Daí os meus textos se terem voltado para outras causas.
No entanto, duas notícias despertaram recentemente a minha atenção. Uma, há alguns dias, e que não recordo em que estação de rádio a ouvi, em que se dizia que Pedro Passos Coelho estava a pensar em apresentar uma proposta no sentido de se reduzir o tempo que medeia entre a convocação de eleições e a tomada de posse de um novo governo, uma vez que por cá tudo isto demora meses. O que escrevi em “Esboço de mensagem a Pedro Passos Coelho”, que publiquei a 30/06/2010, e que, para ter a certeza de que ele ou alguém por ele, a lia, também publiquei na sua página do Facebook, e em que, de entre as minhas sugestões, digo assim na n.º 3: – Alteração da Lei Eleitoral, e da Constituição se para tal for necessário, de modo a podermos ter, à semelhança dos Ingleses, campanha eleitoral, debates, eleições e tomada de posse do novo governo num período de três semanas. (Um autêntico sonho!)
A outra notícia diz respeito a José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda (BE), a quem ouvi hoje, nas notícias das 16:00 na Antena 1, a descrever as medidas da proposta de Orçamento do BE, demonstrando que não seria necessário aumentar os impostos se se reduzissem a sério as despesas de funcionamento do Estado. As tais despesas intermédias de que Paulo Portas do CDS-PP também tem referido. Tudo isso está nos textos que escrevi. A 25/03/2010, “Hoje será um dia como os outros?, no penúltimo parágrafo, disse: Não creio que este PEC seja o que o país necessita. Preferia que contivesse cortes sérios nas despesas de funcionamento do Estado, entre outras, e que não se incomodassem os contribuintes com salários ou reformas inferiores a mil euros. Mas também sei que o país só tem a perder com uma crise política, e é o país que me interessa, por isso é este PEC que temos, será este que temos que cumprir até 2013, a não ser que a Comissão Europeia faça connosco o que fez com a Grécia que teve que elaborar três documentos até ser aceite. (Agora já vamos em que PEC?). A 21/04/2010, “A economia crescerá com pensamento positivo?” (A ironia também serve para tratar de assuntos sérios). A 14/05/2010, “José Sócrates opta por um penso-rápido para enfrentar os problemas do país”, entre outros.
Como os políticos referidos têm mais que fazer do que lerem o meu blogue e não sendo consultora de qualquer deles, nem querendo sê-lo, só posso admitir que o mais comum bom-senso visitou aquelas cabecinhas. Mas tratando-se de políticos portugueses e “à portuguesa”, com a mesma velocidade com que o bom-senso os visitou também pode desaparecer sem deixar rasto.
E para já é suficiente para demonstrar também como não me hei-de sentir cansada de ler e ouvir todos os dias os tagarelas de serviço do país andarem à volta destas questões, sem irem ao ponto fulcral, autores de blogues incluídos.

4 comentários:

vbm disse...

«Mas tratando-se de políticos portugueses e “à portuguesa”, com a mesma velocidade com que o bom-senso os visitou também pode desaparecer sem deixar rasto.»
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Também o receio.
Um aspecto grave destas medidas
é não lançarem as bases do saneamento
para o crescimento futuro da economia.

Maria Josefa Paias disse...

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Não sei se o Vasco se recorda, porque também o comentou, daquele texto de 14 de Maio, que refiro aqui, e com o título "José Sócrates opta por penso-rápido...", em que num parágrafo escrevi: «Lamentavelmente, o plano de austeridade apresentado ontem, não é senão um "penso-rápido", já que nada foi anunciado para se dar início à resolução dos problemas estruturais do país, mas apenas para a redução do défice e, em princípio, por um período de 18 meses, sem poupar sequer aqueles que já pouco ou nada têm. Ou seja, após estes 18 meses, o défice poderá estar controlado, mas a situação do país permanecerá precisamente igual à actual, sem competitividade, sem produzir quase nada, em suma, sem uma economia digna desse nome.»

Creio que esta minha preocupação vai de encontro à sua. Porque, em 2013, o défice até pode estar controlado, mas não haverá Economia e os portugueses estarão ainda mais pobres e, por isso, nem o mercado interno nos salvará. Por isso continuo a bater na tecla das reformas estruturais, no corte das despesas de funcionamento do Estado, que são as únicas que não afectam negativamente os cidadãos e reduzem em muito as despesas a pagar pelos contribuintes, ao mesmo tempo que se agilizaria e diminuiria o peso do Estado na economia.
Como pergunta Miguel Portas no vídeo que publiquei: "E sanções para a estupidez, não há?". Mas isto é a propósito de uma resolução da UE e que esclarecerei na respectiva caixa de comentários.

vbm disse...

Josefa,

Bem reconheço que os teus textos tratam competente e seriamente estes problemas colectivos. Por acaso, até gostava de ver uma mesa paralela à do "Teixeira dos Santos/Eduardo Catroga" com o "João Salgueiro/Augusto Mateus" justamente para que na travagem do endividamento se incrustasse uma coerência desenvolvimentista para a política económica.

O país tem de iniciar uma estratégia de fomento, uma aposta nalgum tipo de prioridade sobre alternativas de utilidade puramente particular ou corporativa. Por exemplo, a energia hídrica pari passu com a remodelação florestal, diversificando o pinheiro e o eucalipto com as espécies mais protegidas do fogo, o emprego de guardas florestais e a obrigatoriedade de limpeza das matas sob pena de penhora e expropriação.

Eu compreendo que a experiência do planeamento centralizado da economia falhou rendondamente nos países do Leste, mas uma estratégia de fomento não é a mesma coisa. É uma aposta nalguns tipos de actividade económica, valorizando-os mais do que opções alternativas, que não são proibidas mas só não prioritizadas. Os portos de mar, Sines e os outros, sequenciados de transporte ferroviário poderão também ser um factor importante de criação de valor.

Em suma, umas coisas devem fazer-se, outras não. A Economia pode não ser uma ciência, mas é seguramente uma disciplina lógica, que ilumina escolhas!

:)

Maria Josefa Paias disse...

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Nem mais, Vasco!
E à falta de uma mesa paralela com João Salgueiro/Augusto Mateus, temos esta: Vasco/Josefa, pois somos todos cidadãos portugueses, com as suas próprias ideias para o país e com todo o direito a debatê-las e a divulgá-las. A reunião de Teixeira dos Santos/Eduardo Catroga continua, neste momento, em São Bento, e a nossa está a decorrer aqui :)
E o problema comum que verificamos é que os governos não têm apresentado propostas de longo prazo, estruturantes, pois o que têm efeito é acorrer a situações de emergência e, uma vez ultrapassadas, tudo volta ao mesmo, ao tapa-buracos, aos problemas de hoje e de amanhã, e não mais do que isso.

Bom fim-de-semana!