sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Aristóteles - inveja, alegria malévola e justa indignação

«A justa indignação, em grego némesis, está entre a inveja, que se entristece ao ver a felicidade alheia, e a alegria malévola, que se regozija com os males de outro. Ambos são sentimentos repreensíveis, e apenas o homem que se indigna com razão deve merecer o nosso elogio. A justa indignação é a dor que se experimenta ao ver a sorte de alguém que não a merece; e o coração que se indigna justamente é o que sente as dores deste género. Reciprocamente, se indigna também ao ver sofrer alguém por uma desgraça não merecida. É isto a justa indignação e a situação daquele que se indigna justamente. O invejoso é o oposto porquanto está sempre pesaroso de ver a prosperidade de outro, quer a mereça ou não. Como o invejoso, o malévolo, que se regozija com o mal, se considera feliz ao ver as desgraças dos outros, sejam estas merecidas ou não. O homem que se indigna em nome da justiça não se parece em nada nem com um nem com outro, e situa-se no meio entre estes dois extremos.»
in La Gran Moral, cap. XXV
(tradução minha)

8 comentários:

c.a. (n.c.) disse...

Muito oportunamente escolhido (e citado) :-)
Abraço

Nicolina Cabrita disse...

«Um homem justo é recto como um quadrado, sem irregularidades».
Por onde andará a boa velha geometria do Aristóteles?...
Bjs

Ana Paula Sena disse...

Olá, Josefa :)

Que bem me fez ler este excerto de Aristóteles. Acho que ele tinha mesmo este dom: o de tudo clarificar.

Perdoe-me a afirmação, mas sinto-me muitas vezes no cerne da justa indignação. Aristóteles descansou-me um pouco, assim, com estas palavras.

Obrigada. E um grande abraço.

Maria Josefa Paias disse...

C.A.,
Muito obrigada pelo comentário e pela visita.
Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Nicolina,
Obrigada pelo seu comentário.
A "boa velha geometria de Aristóteles" está toda aí, nos livros, o busílis é que não são lidos, ou se o são não são compreendidos e, talvez por isso, o que ensinam não é incorporado na ética da vida diária e em sociedade. Exceptuo os casos em que os conceitos são compreendidos, mas a "natureza malévola" do indivíduo se sobrepõe àquilo que ele sabe que é justo mas que não lhe convém aos seus propósitos.
Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Ana Paula,
Obrigada pelo comentário.
Fiquei contente por saber que esta citação de Aristóteles tinha provocado esse efeito em si. É que eu estive quase a desistir de publicar, porque os textos eram tantos e tão pertinentes nos dias que passam, que a escolha foi difícil. Optei pelo menos extenso e mais claro e ainda bem!
Um grande abraço.

Miguel Gomes Coelho disse...

Clarinho como águinha !
Mas o que é mais confrangedor é verificar que passados cerca de 2350 anos o comportamento humano não ter mudado nada.
O texto é actualíssimo.
Abraço

Maria Josefa Paias disse...

Miguel(T.Mike),
Dá mesmo vontade de dar com todos os livros de Filosofia, principalmente os de Ética, nessas cabeças duras, não dá?
Obrigada pelo comentário.
Um abraço.