segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Jorge de Sena - 90.º aniversário (1919-1978)


Madrugada

Há que deixar no mundo as ervas e a tristeza,
e ao lume de águas o rancor da vida.
Levar connosco mortos o desejo
e o senso de existir que penetrando
além dos lobos sob as águas fundas
hão-de ser verdes como a velha esperança
nos prados de amargura já floridos.

Deixar no mundo as árvores erguidas,
e da tremente carne as vãs cavernas
aos outros destinados e às montanhas
que a neve cobrirá de álgida ausência.
Levar connosco em ossos que resistam
não sabemos o quê de paz tranquila.

E ao lume de águas o rancor da vida.
(4/9/1972)
Obras de Jorge de Sena, Poesia-III, pp. 207/8, Edições 70, 1989

6 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Gosto muito do que já li do Jorge de Sena, mas há ainda muito que me falta ler para o conhecer melhor.

O poema é excelente. Obrigada.

Deixo os meus votos de um bom início de semana. Com um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Ana Paula,
Muito obrigada pelo seu comentário.
Não sendo Jorge de Sena um escritor que conste na lista das minhas preferências, não quis deixar de o homenagear.
Um abraço.

Anónimo disse...

Bem lembrado, muito bem lembrado Jorge de Sena, quase esquecido. Poeta e ensaista que muito estimo; arguto directo, certeiro e de linguagem simples. Parabéns por esta edição e pelo espaço. Tudo de bom.

Maria Josefa Paias disse...

Muito obrigada pelo comentário e pela visita, poemar-te.
Abraço.

Maria Ribeiro disse...

ANA PAULA: se visitar o meu lusibero, verá que dediquei um post a JORGE DE SENA, na altura da chegada de seu corpo à Pátria
ABRAÇO de lusibero

Maria Josefa Paias disse...

Maria Ribeiro,
Muito obrigada pelo seu comentário.
Não liguei ao facto de me chamar Ana Paula, já que ela está mesmo aqui ao lado enquanto escrevo estas palavras e é normal esse lapso.
Irei visitar o Lusibero com todo o prazer, e não deixe também de espreitar o "Direito e Avesso" que tem muito F. Pessoa e heterónimos.
Um abraço.