sábado, 28 de novembro de 2009

Natália Correia respondendo à afirmação: "o acto sexual é para ter filhos", de João Morgado (CDS) em 1982

Enquanto Manuela Ferreira Leite, do PSD, continua a defender a ideia de que o "casamento é para a procriação", no âmbito do pedido de legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, vou transcrever o poema/resposta que Natália Correia deu ao deputado João Morgado, do CDS, em 1982, quando este afirmou que "o acto sexual é para fazer filhos", num debate na Assembleia da República sobre a legalização da interrupção voluntária da gravidez, poema que se encontra na página 486 do livro Poesia Completa, da Dom Quixote, e que também foi publicado no Diário de Lisboa a 5 de Abril de 1982.
Aqui fica:
Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

6 comentários:

Miguel Gomes Coelho disse...

Maria Josefa,
Lembro-me como se fosse hoje e a "gozação" que tal deu, na altura, na sociedade portuguesa.
O que confrange é que, passados tantos anos, ainda haja quem defenda o mesmo ou que ainda não tenha descoberto que...também serve para mais qualquer coisa.
:-)))

Benjamina disse...

Essa está boa :)

Maria Josefa Paias disse...

Também me lembro, Miguel.
E por ter achado pertinente com o que se passa hoje, é que publiquei, embora hoje as pessoas envolvidas sejam mais feias, sem sentido de humor nem o dom da palavra como a Natália Correia tinha.
Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Ainda bem que gostou Benjamina, porque a Natália era mesmo assim, no parlamento ou fora dele, um espectáculo.
Bj

analima disse...

Tive a sorte de, com um grupo de colegas e o Prof. Moisés Espírito Santo, ter ido algumas vezes, no final da década de 80, ao Botequim onde estava sempre Natália Correia, Helena Roseta e outras pessoas que, na altura, eu considerava longínquas. A presença de "miúdos" era bem vinda e nunca nos sentimos a mais. Nunca lhe falei mas só a sua presença marcava. O piano, o fumo e a poesia estavam lá sempre.

Maria Josefa Paias disse...

Analima,
Como já tive oportunidade de contar parte da experiência da minha ida ao Botequim, também nos anos 80, em resposta a um comentário recente de uma artista plástica a um postal meu de Julho sobre a inauguração do miradouro da Sophia M.B.Andresen, não o faço aqui.
Mas vejo que também ficou impressionada com ela.
Um abraço.